
Está no ar o último capítulo do núcleo “Minha Morte” de Super Poderosa. Eis o texto deste capítulo:
Minha morte
Parte final
Feijão? O cheiro invade as narinas de Verônica e lhe devolve a consciência. Está em uma cama simples de um quarto pequeno, cujas paredes não são rebocadas. O piso frio, o guarda-roupa tem as gavetas caídas. Ela se senta, traja vestido, os ferimentos desapareceram.
— O vestido é da minha mãe — Um homem negro e forte entra — Eu sou Thiago.
Verônica não diz nada.
Uma senhora de pele escura, mirrada, de lenço na cabeça e de vestido florido aparece ao lado do homem forte. Ela sorri e diz:
— Não se preocupe, está segura aqui.
— Acho que ela está assustada, mãe.
— Converse com a menina, filho. Eu vou ver o fogão — a senhora se afasta.
Thiago se aproxima e se senta na beirada da cama. Ele é careca, alto e musculoso. Tem os olhos castanhos e os lábios sempre dispostos em um sorriso. Veste-se com camiseta vermelha e bermuda jeans. Possui brinco na orelha esquerda e uma tatuagem com o dizer “paz” no antebraço esquerdo.
— Sou enfermeiro e te achei caída quando voltava do trabalho. Trouxe você para minha casa e dei-lhe soro. Sei do seu dom de regeneração.
— Obrigada — ela finalmente diz.
— Minha mãe está preparando o almoço. Acho que você deve estar com fome.
Ela assente.
— Os caras daqui querem pegar você. Não foi uma boa ideia ter vindo assim, sozinha, de repente. Eles são muitos. Tá todo mundo fulo com você; por causa dos seus poderes e sua interferência nos crimes.
— Eu só quero ajudar as pessoas, mas elas parecem que não querem ser ajudadas.
— Ah não! Você é fantástica. É uma inspiração pra gente aqui do morro que não tá envolvido com o tráfico. Sabe, um exemplo.
— Eu vim por causa dos policiais mortos.
— Eu sei. Eles também. Por isso tudo estava preparado. Você teve sorte...
Mercúria se cala. Sorte? Queriam esquartejá-la!
— Não imaginava que seria tão horrível. Que eram tão cruéis.
— Crueldade é comum por aqui. Tanto que a gente passa a não se importar. Bastou ligar pra minha mãe e não foi difícil arrumar um corpo carbonizado para colocar os seus brincos. Pobre mulher que morreu queimada viva.
— Como é? — se surpreende Verônica.
Thiago volta para cozinha próxima e observa a mãe mexer a panela de sopa com uma colher de madeira. Diz:
— Com a ajuda da minha velhinha e alguns amigos armei para que os traficantes pensem que você está morta. É a única forma de mantê-la viva. Tínhamos um corpo carbonizado e tínhamos pessoas querendo a sua morte. Unimos as duas coisas. Eles não vão perceber que aquela não é você. Soube que já deixaram o corpo na delegacia para intimidar a polícia e as pessoas.
Verônica se levanta. Vai até a cadeira da cozinha e senta-se.
— Então estou morta.
— Sim. Vai ser bom assim. Você poderá andar livremente pela favela e pegar o Armandinho de surpresa.
— Armandinho — ela se lembra do encontro com o bandido —, ele é o chefe daqui.
— Isso mesmo. Eu tenho um plano para pegá-lo. Vamos almoçar e te explico.
O enfermeiro que lhe havia salvado a vida lhe cativa de alguma forma. Ela observa enquanto escuta o plano. Ele tem facilidade para sorrir e um cérebro aguçado. É sincero, fala bem e se entusiasma com facilidade.
— Será que dará certo?
— Acho que podemos tentar — ele está lavando os pratos
Thiago conta que é de origem humilde. Sua família nunca havia deixado o morro, apesar de ele ter um salário razoável como enfermeiro. Disse que ali era o seu lugar, lá estava sua gente e quem mais precisava de ajuda. Era membro da Associação de Bairro do Morro do Ouro e angariava donativos para distribuir aos mais carentes. Comprometia parte da sua renda com projetos sociais e preferia manter a discrição. A mãe temia pela sua vida, se o trabalho começasse a interferir nos negócios dos traficantes. Ele sabia conviver com a realidade da favela e era visto como um maluco altruísta que representava pouco perigo.
Para ler a série/livro:
http://www.bookess.com/read/13598-super-poderosa/
Abraços!