31 de julho de 2018

Os Miseráveis - Victor Hugo



Ser bom não é fácil

Os Miseráveis de Victor Hugo é considerado um marco na Literatura universal. Publicado originalmente em abril de 1862, a obra retrata o cenário político e social da França no período entre duas batalhas do século XIX, a Gerra de Waterloo e os conflitos contra o regime absolutista de Carlos X ocorridos em junho de 1832 . Não é só: trata-se de um relato coerente da alma humana.

A história é dividida em cinco volumes, cujos títulos possuem nomes de personagens importantes da trama. Embora cada volume seja nomeado com o próprio nome de um personagem, todos destacam a figura de Jeam Valjean  e seu conflito moral. A narrativa começa com a saída de Valjean  da cadeia após cumprir muitos anos de reclusão por ter furtado alimentos e dá-los a família. Marcado por sua condição de ex-presidiário, Jean não tem vida fácil fora da cadeia, chegando a passar necessidades. Tudo muda quando recebe auxílio de um benevolente religioso chamado  Bispo Myriel a quem retribui furtando-lhe utensílios de prata. Pego pelo inspetor Javert e levado de volta a casa do bondoso padre este informa que a Polícia cometeu um equivoco. O Bispo mentiu dizendo que dera os utensílios a Valjean  e que ele havia esquecido de levar alguns outros. A história avança no tempo e focaliza em Fantine, a pessoa que nomeia o volume.Trata-se de uma jovem parisiense ludibriada por um sujeito que a abandona grávida. Abandonada por todos, Fantine decide entregar sua bebê batizada de Cosette para uma família de taberneiros com a promessa de mandar dinheiro para sustentá-la. A jovem procede como prometera, trabalhando incessantemente nas empresas de pai Madeleine (identidade falsa de Jean Valjean ), perdendo sua beleza e dignidade em troca de dinheiro.

Mostrando as várias faces morais dos homens Hugo avança em "Os Miseráveis", presenteando o leitor com uma trama complexa e bem amarrada que perpassa por pobrezas, guerras e heroísmos individuais ou coletivos, culminando numa existência dura, difícil e cansativa. Como anunciado no título desta resenha Jean Valjean  e outros descobrem que ser bom não é fácil. Além disso ninguém acredita na bondade. Um relato coerente da alma humana ; de suas limitações e transformações ao conforme a ocasião. 

O conflito moral de Javert o tal policial que tem obsessão por prender Valjean  é muito interessante. Tirando dele suas convicções o que sobraria? O que faz um homem se tirarem dele seus princípios? Pode alguém mudar? Seria Jean um bandido ou alguém que jamais deveria ter sido preso? O próprio ex-presidiário questionou-se sobre sua índole, mas o exemplo do senhor Bienvenue o fez trilhar por caminhos benevolentes, mesmo que lhe parecessem mais árduos. 

Em suma, uma obra-prima da Literatura mundial, cujos ensinamentos, embora antigos continuam atuais. O homem não muda. 

Fica a breve resenha e a dica.
Abraço.                 

26 de julho de 2018

Já temos dez capítulos de V de Verônica publicados


Isso mesmo, amigo leitor. Acabo de publicar o décimo capítulo do e-book "V de Verônica". As plataformas de leitura continuam as mesmas, veja:




O livro no Issuu:


Até a próxima postagem!
Abraço. 

20 de julho de 2018

Codinome B


Ele me abraça com desejo, embriagado pelo cheiro do meu perfume. Minha pele exposta, frágil como nunca deixo acontecer. Ele não sabe, ninguém sabe o que arrisco naquele momento. O meu rosto, quando o vi pela última vez? Se as luzes estivessem acesas eu poderia vê-lo de novo. O homem beija os meus lábios com intensidade, sinto o cheiro de bebida e cigarro. 

Já chega. 

Eu só preciso deixar de pensar para que o que há em mim extravase. Não posso sentir o sangue que deixa aquele corpo flácido agora perfurado por minhas lanças sobrenaturais. Rápido como se mil facas o atravessassem com a velocidade de projéteis de arma de fogo. Letal sim, indolor? Não sei, tomara que não. O seu corpo como papel de seda está fragmentado sobre mim; sobre o que sou de verdade. Acho que a armadura gosta de ser banhada em sangue. É como lubrificante para ela. Os pedaços de pele, carne e outros dejetos humanos continuam sobre mim, sobre a cama. 

É a primeira vez que mato um político. É a primeira vez que mato desse jeito, fingindo ser uma mulher. Bem, eu era uma, mas as coisas mudaram depois que entreguei minha alma ao demônio. Não foi tão ruim assim. Eu me sento, pedaços caem no chão. Levanto-me, estou totalmente coberta pela armadura; sou uma guerreira que não pode ser atingida por lâminas ou disparos de arma de fogo. Aproximo-me da porta, destranco-a, deixo o quarto e caminho até a saída do motel luxuoso. Seguranças se colocam no meu caminho, mas ao me observarem, ficam apavorados. Eu não os culpo, também fiquei quando vi a armadura pela primeira vez. Um deles dispara contra mim. O projétil ricocheteia em meu elmo escurecido. Ele se afasta. Devo matá-lo? É prudente acabar com todos aqueles que defendem o meu alvo principal? Tiririca, por menor que seja comparada à plantação, pode proliferar e dominar todo o solo, sobrepujando plantas boas. 

Posiciono-me como se houvesse um arco-e-flecha em minhas mãos. O metal mágico que cobre o meu corpo se expande para cima e para baixo, formando o arco de caça sobre minha mão esquerda. Da palma da mão direita sai uma flecha. Fricciono-a sobre o arco, encaixando sua base na fina linha metálica. Disparo. O segurança que atirou contra mim é atingido na cabeça. Criou outra flecha e assim, sucessivamente, mato todos os defensores do meu alvo. 

Funcionários do motel agora estão no corredor, apavorados. Eu faço o arco desaparecer e gesticulo sinal pedindo silêncio. Aproximo-me dos corpos para recolher minhas flechas, parte de mim. Ao final do trabalho uma camareira me chama:

— Ei você, seja lá o que for, parabéns!

— Acha que espero congratulações? 

— Calma, eu só estou dizendo que eu conheço o Doutor Maurício. Ele é vereador e todo mundo sabe que está envolvido em desvio de dinheiro. O negócio de casas populares, sabe? Muitas famílias carentes estão vivendo de aluguel ou nas ruas porque ele pegou o dinheiro que era destinado à construção de moradias para pessoas de baixa renda. Eu sou uma dessas pessoas! Meu aluguel está atrasado! Se eu não der um jeito até o final do mês, terei que ir para a rua com os meus meninos! E olha que eu trabalho pra caramba, mas não consigo sustentar meus três filhos e ainda pagar aluguel. E este filho da puta, desviou o dinheiro que seria usado para construir minha casinha. Que queime no Inferno!

Mogi Guaçu, 14 de maio de 2018, Paul Law

12 de julho de 2018

O capítulo 9 de V de Verônica acaba de ser publicado



Amigos, venho informar que o nono capítulo do livro "V de Verônica já está no ar! Você pode lê-lo aqui:


Todos os capítulos anteriores podem ser acessados aqui.

O livro no Issuu está assim:
Até a próxima! 

4 de julho de 2018

Aos melhores guerreiros as mais difíceis batalhas



Carmem Albuquerque Figueiredo mantinha a porta do seu escritório fechada. Em sua frente papéis eram relidos na ânsia de identificar um erro, uma contradição, uma informação que jogasse por terra tudo aquilo que o tratamento significava. Pesquisas incessantes, possibilidades, mas o espírito estava abalado. Mil pensamentos perpassam por aquele que sabe que possui uma enfermidade grave. 

Detentora de uma rede de supermercados bem-conceituada no país, Dona Carmem, como era conhecida por seus funcionários, mesmo naquelas condições gerenciava os seus negócios de perto. Cinquenta e poucos anos de vida, o trabalho duro, três divórcios e dois filhos tinham lhe ensinado muito. Havia superado todas as dificuldades enfrentadas, pois era uma mulher forte em vários sentidos, mas desleixada com a saúde. Na verdade, não era proposital, só não conseguia arrumar tempo para cuidar do próprio corpo. Então, quando o corpo se tornou prioridade, era tarde demais. 

Assim que os primeiros exames revelaram sua doença, achou que os médicos tinham cometido um erro. Depois, tentou assimilar aquele quadro clínico, acreditando veementemente na cura. Em seguida, começou a pensar em tempo; quanto tempo tinha? Nesta fase, ficou desesperada, afinal sempre considerou pelo menos vinte anos de sobrevida. 

O que tinha dentro de si era algo vivo que se alimentava do seu corpo e do seu espírito. Quanto mais crescia, mais forte se tornava e consequentemente mais debilitada ela ficava. A coisa a devorava incessantemente, mesmo sendo atacada por tratamentos devastadores. 

Decadência. Carmem era avessa a esta condição humana. Buscou benzedores, pais de santo, pastores e líquidos milagrosos, feitos de todo tipo de planta que se possa imaginar. Nada surtiu efeito, mas sua busca começou a se aproximar do caminho certo. Um cartão, uma empresa, um tratamento secreto. Grande quantia em dinheiro seria gasta, mas as possibilidades eram inacreditáveis. 

Uma cura, um recomeço, uma redenção. Obviamente, mesmo fragilizada pela doença, Carmem tinha o cérebro intacto e precisou de muito tempo para acreditar no que lhe era oferecido. Precisou estudar os documentos por muitas vezes. Era o que fazia mais uma vez naquele exato momento.  

E ela pôde escolher o corpo. 

Contudo, o procedimento tinha que ser realizado com urgência, pois sabia que estava morrendo. Morrendo, palavra perturbadora. Carmem não lidava bem com finais. Assim que o seu cérebro começou a organizar ideias de forma coerente, pensou sobre morte. O que havia depois? Cristã por culpa dos pais, aprendeu que as almas boas vão para o Céu e as ruins para o Inferno. Sua primeira solução visando o Céu, foi tornar-se Freira, já que uma vida toda dedicada ao Senhor lhe garantiria um lugar entre os escolhidos, certo? Entretendo o primeiro plano falhou assim que ganhou mais idade. Os sentimentos, os exemplos e então a ideia de que Deus não exigiria tanto de seus filhos culminaram na mudança de ideia. Ser boa, fazer o bem sem ir à Igreja, foi outra ideia que não vingou. O Mercado é um campo que exige muito de seus jogadores. Vencer no ramo empresarial nem sempre é possível sem galgar sobre as costas dos outros. Na verdade, nunca. Usar o tempo de vida dos próprios funcionários em troca de parcos salários já deve ser pecado. Os funcionários serão perdoados, afinal não sabem o que fazem, já Carmem...

A doença é um castigo que Deus lhe mandou, entendia assim. Sua mãe sempre lhe ensinou que Deus castigava aqueles que agiam mal; que pecavam. Era justo. Justo não seria morrer depois de tanto sofrimento. Se Deus é perfeito como acreditava que era não cometeria um erro lógico tão grave, O certo é se redimir depois da dor. Reeducar-se ao invés de sucumbir. Tinha tanto medo de morrer e Deus não seria Deus se lhe mandasse uma das piores maneiras de ser exterminada: aos poucos. 

Aos melhores guerreiros são dadas as mais difíceis batalhas, isto sim. Depôs os documentos, pegou o telefone e discou o número restrito da Copas.

Ninguém a atendeu.

Mogi Guaçu, 07 de fevereiro de 2018, Paul Law