28 de março de 2019

A Viúva Silenciosa - Tilly Bagshawe


Um romance policial mediano

Sidney Sheldon é um escritor muito conhecido, detentor de números impressionantes. Escreveu muitos livros, trabalhou com televisão e consolidou o seu nome no mercado. Embora alguns torçam o nariz quanto a obra dele por julgarem comercial demais; pouco inovador, fato é que o autor fez muito sucesso. Tanto que, mesmo após sua morte continua a publicar livros. Claro que a pessoa física Sidney Sheldon não é responsável pelas obras, mas sua família transformou o nome "Sidney Sheldon" em uma marca. Nesse ponto entra a escritora Tilly Bagshawe, a verdadeira autora do livro. Segundo a própria viúva de Sheldon, Tilly tem um estilo muito próximo ao do autor e neste "A Viúva Silenciosa" podemos conferir se ela está certa ou não.

A história gira em torno da bela psicóloga Nikki Roberts e assassinatos. Duas pessoas ligadas à doutora Roberts são mortas: uma de suas pacientes e o seu secretário. Os detetives Goodman e Johnson começam a investigar os crimes, mas pouco avançam. Um deles, o preconceituoso Mick Johnson até chega a teorizar que Nikki é a criminosa. Contudo, após contratar o detetive particular Willian, a psicóloga começa a desvendar os crimes e perceber que tudo aquilo faz parte de algo muito maior, envolvendo o próprio assassinato do seu marido, tráfico de drogas e corrupção.

Leitores atentos vão perceber que o enredo de "A Viúva Silenciosa" é similar ao de "A Outra Face", este último assinado de verdade por Sheldon. Terá a impressão, inclusive, que Bagshawe se "inspirou em tal obra para criar a história da doutora Roberts. Trocou o psicanalista Judd pela psicóloga Nikki. Até mesmo as pessoas que morrem no início da trama possuem funções idênticas e são em mesmo número: dois. Estes fatos tiram o brilho de uma obra original. Obviamente que "A Viúva Silenciosa" não é só uma imitação de um livro famoso e antigo. Há elementos atuais, como a questão do preconceito, o politicamente correto e assédio. Contudo, a trama acaba sendo superficial e artificial. Sheldon era meticuloso com a descrição dos locais e Bagshawe tenta imitá-lo neste quesito. Até consegue no começo, mas depois, conforme a autora vai ganhando liberdade, suas características ficam mais evidentes. Tilly é mais da ação, explosiva; menos detalhista com o cenário.  

Uma leitura longa, empolgante em alguns pontos, mas que peca por tentar criar uma "fórmula de Sidney Sheldon de escrever livro". 

Fica a resenha. 

25 de março de 2019

O Profeta Jessé



O profeta Jessé ergueu as mãos e duas rodas de suor ficaram evidentes embaixo dos seus braços. A manta dourada não era eficiente para esconder a transpiração e ficava feio nas filmagens. Muitos fiéis acompanhavam a pregação sob o sol escaldante daquela tarde e o espaço aberto improvisado para um “sermão” parecia insuficiente. Jessé pediu um copo de água para os seus súditos mais próximos. Segurou o recipiente transparente com as duas mãos e bebeu, trêmulo por causa do Parkinson. Agradeceu com uma reverência e começou mais um dos seus sermões:
— É bobagem dizer que o homem peca. Deus sabendo de tudo, sabe da Natureza humana e concorda com ela. Ele sabe que o homem cometerá erros e não se importa com isso! Deus quer que o homem peque e aprenda com o pecado para que, por si mesmo não volte a pecar. Então, caríssimos fiéis pequem o necessário para aprender com vossos erros. 
Ouviu-se inúmeros comentários, confusos. Murilo, o discípulo mais próximo de Jessé baixou os olhos já ciente da confusão que as palavras do mestre causavam. Em toda cidade era a mesma coisa.
— Esqueçam as regras pré-estabelecidas se elas não significam nada a vocês. Se o preceito de assassinar alguém não parece errado a um homem, poderá ele matar pelo menos uma vez. Porque após causar uma morte, o homem verá por si mesmo que cometeu um erro e não voltará a cometê-lo.
— Este homem é louco! — bradou alguém. 
Jessé uniu as duas mãos em prece. 
— Rezem comigo. Peçam por serenidade a fim de aprender com os erros e coragem para não os repetir depois de saber que é errado o que fazem. Coragem para não pecar mesmo que seja grande a vantagem. Nada é maior do que fazer o certo. 
Após os minutos destinados a oração da coragem e serenidade, como o profeta chamava aquele exercício moral, formou-se a fila tradicional para a realização dos milagres, a verdadeira razão de todos estarem ali.

Paul Law, Mogi Guaçu, 29 de novembro de 2018.

6 de março de 2019

Francisco de Terra



Era uma vez duas irmãs que gostavam de brincar com terra. A mais velha, de nove anos, se chamava Bárbara; a menor tinha o nome de Beatriz e contava com cinco anos. Certo dia, uma segunda-feira para ser preciso, as duas criaram Francisco de Terra. Sim, de terra por parte de mãe; dos primos de areia e dos tios de pedrisco. Um boneco muito especial, feito de barro e imaginação como tudo que é bom deve ser feito. Não foi com isso que Deus criou o homem? Claro que Bárbara e Bia não eram Deus, apenas duas meninas brincando. 
Foi assim que se deu a Criação (e olha que demorou viu!): a Bárbara juntou terra marrom; a Bia buscou água. As duas misturaram as coisas. Depois de pronto o Chico ficou com quase um metro de tamanho! Pernas finas, um pé grande outro menor, um joelho mais baixo do que outro e uma cabeça bem redonda. Era careca, tinha olhos de buraco de dedo de criança em bolo de aniversário. 
— E a boca? Ele não tem boca? — perguntou Beatriz ao observar melhor o boneco estendido no chão. 
Bárbara olhou para a irmã como quem não quer admitir o erro. Respondeu:
— Claro que ele tem. Vou fazer agora o sorriso mais bonito que existe.
Devo confessar que foi isso mesmo que ela fez. Traçou um belo sorriso na cabeça de barro de Chico de Terra que imediatamente ele ficou de bom humor. A Bia deu pulinhos de alegria. Talvez o boneco lutasse capoeira, já pensou?
Então, chegaram para brincar o Robertinho e o Guilherme, primos das meninas. O Robertinho, um menino magrinho e loirinho de seis anos. O Gui tinha quatro anos e era gordinho. 
— Que estão fazendo? — perguntou o Gui ao se aproximar
— Fizemos o Francisco de Terra — respondeu a Bia.
— Vamos brincar de outra coisa. De mina de diamantes! A gente destrói o boneco e faz a mina para ficar rico — falou o Robertinho.
A Bárbara que era a maior deles (e a mais sensata) disse:
— Ninguém mexe no Chico. 
O Gui estava usando um escudo e uma garra de três pontas de brinquedo e deu a ideia:
— Eu empresto pra ele o meu escudo e a garra de guerreiro.
As crianças até acharam boa a ideia, mas não tinha como colocar a garra na mão de barro do Chico. Nem dar a ele o escuto. Francisco ainda continuava imóvel como qualquer outro boneco preguiçoso. 
Aconteceu de a mãe da Bárbara e da Bia, chamá-las. É que era hora de jantar. As duas foram para dentro de casa, mas o Robertinho e o Gui ficaram brincando no terreiro. Dou um doce a vocês se adivinharem o que os danados dos meninos fizeram. Pois é, eles pisotearam o Francisco de Terra. Fizeram buracos, tiraram terra daqui puseram ali, um serviço tão bem feito que não sobrou nem vestígio do boneco de antes. A Bia e a Bárbara só se lembraram do Chico no dia seguinte e quando foram vê-lo, descobriram que ele não estava mais lá. Acreditam que a Bia ficou feliz? Disse à Bárbara:
— Olha, ele não está mais aqui! Ganhou vida! 
— Não, Bia, não foi isso que aconteceu.  
Mas antes que a Bárbara pudesse explicar à irmã o que tinha acontecido, ouviu o arrulhar de pomba de fim de tarde. Era um som triste, mas vinha do boneco com sorriso que a própria Bárbara tinha feito nele. Francisco acenou para as meninas que não cabiam em si de tanta alegria. Não estava muito longe do monte de terra de sua origem. 
— Agora eu tenho que ir, crianças. Vim da terra, retornarei à terra. As coisas se transformam, não é incrível? O barro é moldável, vem a chuva, a mão de criança e o que sou, fui.


Paul Law, Mogi Guaçu, 06 de março de 2019.

1 de março de 2019

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