7 de abril de 2025

Parabéns, Mogi Guaçu


Nasci em outro solo, morei na roça. Com 19 anos vim para cá com meus pais e irmão. Hoje tenho vários aniversário contados aqui. A mãe e irmão moram em cidade vizinha. Acabei ficando sem saber explicar bem o motivo. 

Talvez tenha sido pela característica da cidade de não ser muito grande nem muito pequena, equilibrada como tudo o que é bom deve ser. Ou seja por causa do seu povo simples, de coração gentil e de alma limpa. Quem sabe tenha sido por causa do sentimento de fazer parte de algo; de ser acolhido e de se sentir em casa. 

Embora eu não tenha nascido em Mogi Guaçu (eu bem que gostaria), me fiz e me faço nesta terra. Vi nascer minha própria família e meus primeiros dias de trabalho. A cidade fará  anos no dia 9 e eu a agradeço por ter me recebido como um filho verdadeiro.  

26 de fevereiro de 2025

A Décima Terceira Hora


Com Pano e humor das flores de hibisco, Amon, como Artesão escolheu ser chamado depois de se separar da sua madeira, fez sua obra-prima a Décima Terceira Hora e a preencheu com destinos.  

No tempo em que não passa ponteiros sobre números do relógio há uma balança construída sobre o galho rijo do flamboyant. Ela tem corda forte e madeira lisa para que seu filho com Nara brincasse. O ar que se respira lá é de pura risada.  

Nos segundos sem barulho dessa Hora tem um homem plantando em seu pedacinho de terra. Tem esposa e cinco filhos e mesmo ignorante às grandes questões que permeiam aquele instante, é feliz. Sandro é sua graça. 

Onde hora ou minuto nunca passa é que Anna casa-se com Carlos numa exagerada cerimônia no barracão da Boa Manhã sob aplausos do seu Honório e Conceição, além de funcionários e amigos. É a mãe de Carlos que leva uma imagem de Nossa Senhora Aparecida até Padre para o fim da cerimônia. Os noivos dão um beijo que tem gosto de vinho e forma de sorriso. 

— Não disse que nos veríamos de novo? — são as palavras da noiva após separar seus lábios dos do esposo. 


14 de janeiro de 2025

Vaza um Grito - Nunes Guerreiro

 


Concreto, poético e incrível

O poeta Nunes Guerreiro teve uma ideia simples e genial ao conceber a sua primeira obra: por que não ter um livro que as páginas pudessem ser livres? Pode parecer confuso usar a palavra livre aqui, mas é justamente isso que acontece em "Vaza um Grito". O livro é uma caixa, cujo conteúdo são poesias que ocupam uma página e que são soltas dentro da caixa. Não tem ordem de leitura, não tem número de página e elas podem ser dadas de presente se o dono desejar. 

Nas páginas livres você vai encontrar poesia sobre morte, pensar, permanecer, índio, guerra, território, amor. Pequenas, impactantes, maiores, concretas. A obra tem viés de poesia concreta e isso já é uma faceta desse poeta. Tanto que um dos fundadores do movimento Concretismo, Décio Pignatari, está no prefácio do livro. Tem outros nomes de peso indicando Vaza um Grito. 

O texto de Nunes Guerreiro é criativo, belo e simples. Uma poesia-arte não só na mensagem, mas na forma e no visual. Uma obra verdadeiramente artística. Como bem ponderou a filha do autor ele transpira poesia. 

Fica a breve resenha de um dos livros mais sensacionais que tive o privilégio de ler. Os meus (tenho três, dois inteiros em edições diferentes e um pela metade) estão assinados pelo autor.  

Abraço.    

6 de janeiro de 2025

Poesias de Cícero Alvernaz



A vida é poesia

Não é muito simples definir o que é poesia porque a sua matéria-prima é a beleza das coisas. Em "Poesias" o poeta Cícero Alvernaz parte dessa premissa para nos presentear com reflexões singulares sobre diversos temas. Tudo com muita sensibilidade, beleza e simplicidade.

Poesias é um livro especial, artesanal, que tive o privilégio de receber do autor (autografado e tudo) e que acabei demorando um pouco para terminar de ler. Perdi-o entre outros livros, mas, por estes dias consegui encontrá-lo e voltei à leitura. Melhor dizendo, recomecei a ler. Foi uma coisa boa, uma companhia agradável em uma noite de insônia.

São muitas poesias sobre temas variados como amor, família, Deus, caráter, sentimentos em idade madura, vida e morte, natureza, saudade que nos fazem refletir. Sempre em tom leve, o poeta tece suas considerações que não passam de uma página (um poema por página), o que não significa superficialidade. Cada poesia é marcada por sua data de nascimento, dando ao leitor uma dimensão do ritmo de produção do poeta. A vida parece inspirá-lo. Admiro quem diz muito com pouco e é o caso aqui.  

O material é simples, mas de bom acabamento, bem diagramado e corrigido. Tive que terminar de ler para poder dormir. 

Fica a breve resenha e a recomendação! 

Abraço.