
Quando o senhor escrito chega em casa, ele não chega totalmente. Parte dele fica e ele se perde sempre de pouco em pouco nos textos que escreveu. Abre a porta de casa com sua chave mandada fazer ali perto já que a original perdera não-se-sabe-onde. A vida dele é assim: perdendo. A verdade é que ele gosta de se perder, pois quer muito ser encontrado por aqueles que leem; quer muito ser achado por aqueles que buscam palavras. Eis aí a razão de tanto trabalho em se perder.
Mas não se pode perder sempre, ele sabe. Uma hora dessas, ele tem que encontrar o local de seu celular, de seu controle da TV e mais coisas de seu cotidiano. O problema é que essas coisas que ele encontra e que são comuns a todos, não lhe satisfaz. É que ele sabe, no fundo sempre soube que sua natureza criativa não pode se resumir na existência pura e simples. Quer voar, encontrar pessoas fantásticas, nem que para isso precise criá-las, pois se não temos um mundo encontrado ideal, podemos fazê-lo com nossas palavras. Podemos tudo! Quer dizer: o Senhor Escritor pode, nós podemos lê-lo, mas já nos basta.
Quando estamos lendo o que o Senhor Escritor nos escreveu, entendemos um pouco do que ele pensa, quer concordamos com ele, quer não. No fundo ele quer que o escutemos, mesmo que pouco fale. Ele quer ser descoberto, anseia pelo dia em que seus alertas serão levados em consideração. Anseia pela cultura de seus leitores. Mas ele só escreve e não pode achar essas soluções se alguém não as tiver perdido antes.
Lendo-o, somos forçados a entendê-lo, a achá-lo como queria e depois passamos a querer nos perder também para depois sermos encontrado. Acho que no fundo, o Senhor Escritor também foi um de nós que depois de tanto achar os outros quis se perder também. Eu estou achando-o.