20 de fevereiro de 2014

As Aventuras de Pi

 


Afinal, bananas boiam ou não sobre a água?

O canadense Yann Martel fez rebuliço no mundo literário com o seu Life of Pi, um livro que conta a história de um menino náufrago e o seu tigre-de-bengala no meio do Oceano Pacífico. Famoso por conta da sua adaptação para o cinema por Ang Lee, a história de Piscine tem seus méritos.  

Tudo começa quando o próprio Yann se encontra com o personagem do livro no intuito de colher dele uma grande história. O agora homem maduro Piscine Molitor Patel reside no Canadá; é casado e tem filhos. Mas nunca esqueceu o que passou para chegar à América; sua grande história; seu convívio com o emblemático Richard Parker. Para começar o seu nome, que é o mesmo que o de uma famosa piscina francesa, lhe gera desconforto. A solução pelo próprio protagonista é abreviá-lo para Pi, o que não ajuda muito. Passam a chamá-lo de 3,14. O nome “piscina” não é à toa: serve para dar ênfase às qualidades aquáticas do protagonista. Pi é um garoto indiano, curioso, receoso, que apesar de hindu, adere ao cristianismo e ao islamismo. Acredita que há várias formas de se chegar até Deus. Busca entender o divino…

Com a crise instalada na Índia o seu pai resolve vender o seu zoológico e embarcar num navio cargueiro, junto da família e dos seus animais que iriam ser negociados na América, para o Canadá. É nessa viagem que a “grande história” acontece. O navio afunda em pleno Pacífico e o nosso Pi se vê como único sobrevivente em um bote salva-vidas. Único sobrevivente humano, já que no seu bote está uma zebra com a pata quebrada e uma hiena. Mais tarde, boiando em um cacho de bananas chega Suco de Laranja, uma macaca. Depois, descobre-se que a bordo ainda está Richard Parker, o tigre.  Pi nos conta como sobreviveu ao infortúnio de dividir espaço com animais selvagens e ao perigo constante de ser devorado por um feroz tigre-de-bengala. Uma ideia brilhante que já havia sido pensada antes pelo nosso Moacyr Scliar no seu Max e os Felinos, que recebeu o seu crédito do autor no Prefácio do livro.

A saga de Pi é relatada de duas formas. Uma delas com animais, tal qual dito anteriormente. Outra, sem eles, na qual os personagens do bote são trocados por figuras humanas. Os capítulos se alternam entre os narrados por Piscine e os por Yann. O autor do livro usa capítulos para deixar registrado o que pensa sobre Pi e sua história, no intuito de dar veracidade ao que conta. Nos capítulos finais, há a transcrição da gravação da conversa de Pi e os policiais que investigam o naufrágio do navio cargueiro que o vinha trazendo. É nesses capítulos que é apresentada a história sem os animais, embora ela não seja a verdadeira, segundo o sobrevivente.

Richard Parker, o tigre, tem nome sugestivo. Figura no conto de Edgar Allan Poe como cozinheiro que foi devorado por outros sobreviventes de um naufrágio. Aparece também como nome verdadeiro de outra pessoa que acabou tendo a mesma sorte do Parker de Poe num naufrágio real, tempo depois. Em “As Aventuras de Pi” ele tem papel inverso. O seu nome se justifica pela confusão com o nome do caçador que o capturou. O caçador virou Sedento e o tigre Richard Parker.

Um livro metafórico, de dúbio entendimento, no qual a verdade figura em segundo plano. No fim das contas Pi sobreviveu ao naufrágio, como relatou na sua primeira versão da história. Agora, encontrar Richard Parker nas matas litorâneas do México é bem mais difícil do que achá-lo no Canadá com sua família…

Fica a resenha e a dica.

Abraços.

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