Novo mundo, velhos deuses
Deuses Americanos é a obra ficcional de Neil Gaiman que mistura várias mitologias e atualidade. Através do misterioso Shadow, o autor explora um mundo invisível povoado por deuses decadentes que se estabeleceram nos Estados Unidos da América. Já resenhei outra obra do autor "O Oceano no Fim do Caminho" (a resenha pode ser lida aqui).
Shadow é um presidiário em véspera de ser solto. Aliás, sua soltura é adiantada por um evento terrível: sua esposa Laura acaba de falecer. Enquanto viaja para sua cidade, o protagonista conhece um sujeito estranho, denominado Wednesday. Eles conversam mesmo contra a vontade de Shadow. Wednesday oferece um emprego ao ex-presidiário, ele nega, já que tinha se comprometido a trabalhar em uma academia de musculação de um amigo em sua cidade. A presença de Wednesday aborrece Shadow. Ele resolve deixar o avião que vinha viajando e seguir de carro para casa. No caminho, após uma parada para alimentação, o protagonista reencontra o estranho que lhe ofereceu emprego. Há confusão no bar, Shadow aprende um truque com moedas. Quando ele chega ao velório da sua esposa, descobre que ela morreu na companhia doe amigo que lhe daria emprego na academia de musculação. Shadow descobre que sua esposa o traía com este amigo. Ele fica decepcionado e resolve aceitar o emprego de Wednesday. Antes de sair do cemitério, joga a moeda que ganhou no bar enquanto aprendia o truque na cova de Laura. Esta aí o começo para uma aventura inusitada, onde mortos se levantam, deuses fumam constantemente, e um inimigo poderoso precisa ser vencido.
Num tom muito semelhante ao quadrinho Sandman Estação das Brumas, Deuses Americanos é mais abrangente (possui mais de quinhentas páginas). Tanto no famoso quadrinho da década de 90, quanto no livro o enrendo envolve criaturas míticas, deuses e como elas se comportam na sociedade atual.
Deuses Americanos é narrado em terceira pessoa, o que dá a liberdade ao autor de poder deixar o núcleo principal da história e contar enredos paralelos. Em alguns pontos Gaiman abandona Shadow para contar como certos deuses chegaram aos Estados Unidos e isto foi ruim. A quebra na narrativa é acentuada, brusca e frustrante. Há momentos em que a saga de Shadow e Wednesday está no ápice e é interrompida por uma história paralela fria de um deus qualquer. Obviamente o autor se preocupou em contar histórias de deuses que figurariam no embate principal da obra. Também é inquestionável o seu conhecimento sobre as várias divindades existentes. Há outras obras do autor que exploram criaturas divinas.
Por outro lado, o enredo principal é muito interessante. Prende o leitor imediatamente, já que faz uso de criaturas fantásticas se envolvendo com um ser humano comum. Destaque para a participação especial da esposa de Shadow que é uma criatura "singular". Outro ponto forte são os inimigos dos deuses: os novos deuses. Gaiman faz uma analogia pertinente sobre o que julgamos importante nos dias de hoje e a idolatria que havia no passado aos deuses. Ele trabalha o que a humanidade entende por extremamente necessário como novos deuses. Para Wednesday e seus conterrâneos, estas divindades são conhecidas como falsos deuses. Ainda é importante frisar que o final é surpreendente. Apesar dos indícios de que duas forças opostas existem e de que se enfrentarão, o desfecho para o livro é original. Shadow ganha mais importância, numa espécie de herói da ocasião.
Por fim, Deuses Americanos é um livro longo que explora as divindades de diversos povos que migraram para os Estados Unidos junto daqueles que acreditavam neles. Nas terras do Tio Sam não há espaço para deuses e eles precisam fazer alguma coisa para continuarem existindo. É isso que eles fazem nas páginas da obra, ao passo que o protagonista Shadow é uma peça neste jogo. A ruptura no núcleo principal incomoda, mas não tira o mérito do desfecho.
Fica a resenha e a dica.
Abraço.
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