A vida é um soco no estômago
A Hora da Estrela é o último romance de Clarice Lispector. Narrado por Rodrigo S.M., alter-ego da importante escritora modernista, conta a história de uma nordestina. Não linear de linguagem complexa e de divagações pontuais, A Horta da Estrela é uma obra única, constituída em sua maioria por texto introdutório. Arquitetada de forma não convencional, já que o autor/narrador intercala a apresentação do tema com suas próprias conclusões, a Hora da Estrela é sutil, intensa e profunda.
Tudo começa com o próprio Rodrigo dizendo que pretende contar a história de uma nordestina que veio ao Rio de Janeiro em busca de vida melhor. Enquanto vai apresentando sua personagem e o mundo no qual está inserida, vai dando detalhes de si mesmo e como sua visão interfere no próprio destino de Macabéa (este é o nome da alagoana, personagem principal do livro). O ponto em que deixamos as divagações do autor e adentramos verdadeiramente na vida de Macabéa é leve, sutil, quase que natural. As histórias se ligam facilmente. Rodrigo interrompe por várias vezes o relato que faz da vida da nordestina a fim de contar algo alheio, mas retoma a narrativa naturalmente. Há ocasiões em que salta no tempo, regride, costura, interrompe, de modo que o entendimento do seu leitor se torne fragmentado. Passa-se muito tempo anunciando uma grande história, um ápice, clímax, a hora da estrela. Quando ele ocorre, no entanto, é como um soco no estômago.
Clarice escolheu uma personagem invisível aos olhos do mundo para dar-lhe voz e importância. Entalhou com maestria traços de realidade no lúdico, na arte. Há um processo de embelezamento em A Hora da Estrela. Olhos atentos... Macabéa sempre soube o seu lugar no mundo e estava bem com isso. Só ideias alheias puderam lhe trazer novos pensamentos (sua desgraça ou salvação) Ao final, o que permanecesse são os momentos que nunca são vividos, a esperança (todo mundo tem esperança).
Um caminhão, um momento de glória e mais nada.
A Hora da Estrela é um livro curto, intenso e perturbador. Complexo por sua construção, belo por natureza. Confesso que nunca havia lido algo assim.
Fica a resenha e a dica.
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