20 de agosto de 2019

Macunaíma de Mário de Andrade


Sem nenhuma identidade


Publicado em 1928, Macunaíma é considerado pela crítica literária como a obra-prima do escritor Mário de Andrade. O livro narra a vida do personagem de dá nome ao título da obra, tido como herói sem caráter, desde sua infância com os índios da tribo em que nasceu até sua morte já longe dos seus e de sua cultura. 

A história de Macunaíma começa com sua pré-disposição em "brincar" com as índias. Mesmo em tênue idade, o herói, como Macunaíma é chamado por toda a história, aprende sobre os prazeres da carne. Aliás esta é uma das características mais recorrentes do herói. Ao se engraçar com Ci, a Mãe do Mato, Macunaíma recebe de presente o  Muiraquitã, uma espécie de talismã em forma de animal. No entanto, o herói perde o objeto precioso e a história foca em seu empenho para reaver o artefato que agora se encontra sob a guarda Piaimã, o gigante comedor de gente.  Com toda a sua esperteza, junto de seus dois irmãos, Macunaíma enfrentará o gigante que está desfaçado de rico burguês na cidade de São Paulo. 

Mário de Andrade concebeu uma obra peculiar ao se valer de palavras indígenas e de falsa simplicidade em seus diálogos. A verdade é que Macunaíma é de difícil compreensão, pois os personagens possuem bagagem ideológica indígena, perdida já naqueles tempos. São lendas, mitos e tradições que se foram com os habitantes originais do Brasil (tão estranhas a nós). Este fato funciona como uma crítica á identidade brasileira. Em algumas passagens Macunaíma se rebela contra a cultura de São Paulo; contando sua própria versão sobre um fato. Deuses, estrelas e personagens que divergem do que ele aprendeu na aldeia e que não aceita. Sua batalha contra o gigante nem parece mais tão importante, já que sua estadia em terras tão diferentes vai lhe tirando o prazer pela vida. 

Há um estereótipo de que Macunaíma é um retrato do brasileiro moderno, por conta da sua preguiça, falta de caráter e despreocupação. Na obra, no entanto, tive a ideia de um índio perdido; alguém que tenta lutar contra o fim de sua própria crença. Uma luta difícil e covarde. Ao final, Macunaíma se junta aos seus e dá nome a uma constelação que podemos ver bem.

Um livro único, difícil e de leitura lenta, mas edificante. Por vezes se faz necessário pesquisar alguma palavra indígena e há outras que nem são encontradas, o que pode dificultar a compreensão. O autor diz em suas notas da edição algumas ferramentas que os leitores devem usar para entender melhor a obra, bem como esclarece que gastou pouco mais de seis meses para escrever Macunaíma. 

Fica a breve resenha e dica.  
Abraço! 
Paul Law

           

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!