26 de novembro de 2020

Machado de Assis em Mogi Mirim


Não faz muito tempo passei na Lê&Cia, loja de livros de Mogi Mirim, para ver como o meu amigo João, o proprietário da loja, estava. Nesta oportunidade, vejam vocês, conversamos sobre Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos (bem, pelo menos é o que penso). Ele, então, me disse que Machado havia mencionado Mogi Mirim em um de seus escritor. Mais que isso, falou que tinha como provar. Mostrou-me o livreto "Crônicas Escolhidas" publicado pela Folha de São Paulo na década de 90, dado como mimo aos assinantes do jornal em certa ocasião.

Quer saber outra? Eu ganhei o tal livro e pude ver por mim mesmo do que falava o meu amigo! Compartilho, agora, com vocês.

Trata-se de uma crônica intitulada pela Folha como "Caso de Bigamia" e está disposta entre a página 174 a 177 do referido livro, originalmente escrita em 23 de setembro de 1894 para o jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Nela Machado de Assis escreve sobre um caso real ocorrido naquele tempo sobre um julgamento em que um homem era acusado de ser bígamo. A defesa do capitão Louzada formulou a tese de que o homem não poderia viver em bigamia com a Sra. Maria Carlota, pois sua esposa, a Sra. Maria Henriqueta, não era quem dizia ser. Explicando melhor, quem se passava por Maria Henriqueta era sua irmã que assumira o lugar após a morte da esposa de Louzada. Confuso? Mirabolante? Tudo isso! O que a defesa queria explicar era que não havia bigamia, pois não se tratava da esposa de Louzada, mas sua cunhada! A esposa estava morta e enterrada no lugar da cunhada! Obviamente que  tal artimanha era exagerada e descabida, fato que rendeu a Machado o recheio que precisava para escrever a crônica aqui comentada.       

Abordando o caso de forma irônica o fundador da Academia Brasileira de Letras começa dizendo que se converteria ao espiritismo, única doutrina verdadeira no mundo e capaz de elucidar o caso. Aduz que era preciso convocar o espírito da mulher falecida para que ela por si mesma esclarecesse sua identidade. Era o único jeito. 

É preciso fazer um pequeno comentário sobre o instituto casamento no final do século XIX. Um homem daquele tempo tinha a obrigação de prover sustento de sua família, não deixá-la passar necessidades. Por sua vez, a mulher tinha a obrigação de ser fiel ao homem, cuidar dos filhos e da casa. Posto isto, só se poderia alegar bigamia, a única possibilidade de dissolução do casamento civil, para o caso em que uma das partes não cumprisse sua função no casamento. Louzada estava deixando sua mulher e filhos passarem fome, por isso o caso veio a tona. Há um estudo acadêmico sobre o caso e você pode conferi-lo aqui. 

Mas então, onde está Mogi Mirim nessa história toda? 

No decorrer de sua explanação sobre a importância do espiritismo, Machado de Assis alega que, segundo a Ordem, em Mogi Mirim acabara de enlouquecer um burro do Dr. Santo Di Prospero (meu amigo jura que esta família é conhecida em Mogi Mirim, mas me falta este conhecimento). O animal certamente tinha um espírito de homem ilustre e inteligente dentro dele, daí a razão de perder a lucidez. Não aceitava zurrar ao invés de falar, nem a andar de quatro patas. 

De todo jeito, concordando ou não com a veracidade da doutrina ou da história de Louzada ou, ainda, do burro mogimiriano com espírito ilustre, fica registrada a curiosidade. Eu me encantei em conhecer um pouco mais dessa fantástica saga. Espero que você também tenha gostado. 

Abraço!    

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