Suzi Nogueira adorava aquilo. Mexer com visual das pessoas, cuidar da aparência, mudar de qualquer forma. O seu salão de beleza no Centro da cidade era bem requisitado e rendia-lhe um bom sustento. Era uma mulher alta, ruiva de cabelos curtos e olhos verdes. Aparentava ter uns quarenta anos, usava uma echarpe verde em volta do pescoço e um vestido de verão, branco. Brincos extravagantes enfeitavam suas orelhas e botas negras cobriam os seus pés.
— O que vai
querer dessa vez? — ela perguntou a Treze, enquanto abria sua maleta.
— O de
sempre. Quero parecer normal.
Suzi
sorriu. Conhecia Treze desde o começo. Tiveram um romance há quanto tempo? Seguiram
caminhos diferentes. A cabeleireira havia superado tudo aquilo. Tinha criado
uma vida para si; um nome, não mais um número. Suas habilidades que antes eram
usadas para suavizar o processo de adaptação dos transplantados, agora serviam
a todos os clientes.
As mãos
ágeis da cabeleireira agarraram os longos cabelos dourados de Treze e começaram
a cortar. Em seguida, deu volume e cachos. Por último pintou tudo de preto, num
penteado moderno. De uma pequena caixa de plástico, tirou lentes de contato.
— Adeus
olhos azuis.
Treze não
gostava de se ver, embora tivesse que encarar o seu reflexo para conferir o
trabalho de Suzi. Mudara tanto ao longo dos anos que não conseguia imaginar sua
própria aparência. Não se importava com isso, aliás, mas a experiência tinha
lhe ensinado que os outros se importavam. Não havia negros de olhos azuis,
cabelos lisos e loiros e encontrar com Alanna Soares assim causaria
resistência. Treze precisava de tudo para convencer a atriz do que estava
acontecendo. Até mesmo, fingir ser o que não era.
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