Elisa chegou ao quintal em que se localizava Bernardo. Era tarde naquele espaço amplo, perto de um córrego de uma linda chácara. A família da adolescente residia ali sem pagar aluguel em troca de manter o local limpo para os patrões que só visitavam o lugar nas férias.
— Vamos continuar falando sobre conhecimento? — ela começou.
— Pois não — respondeu-lhe a árvore.
— Frequentei a escola, você sabe. Lá aprendi a fazer contas, a escrever palavras e o funcionamento do corpo humano. O das árvores também. Não acha importante saber todas essas coisas?
— Depende. No presente você usa as contas? Escreve palavras?
— Hoje falo com árvores.
— Pois então só precisa saber falar com árvores, Elisa. Eu, por exemplo, só sei ser árvore. Todo dia sou árvore.
— Já te disse que simplifica demais as coisas. Não sabe como é ser uma pessoa, Bernardo! Não tem como saber como é ser Elisa. Eu vou continuar mudando, crescendo.
— Ora, eu também mudei, cresci.
— Não dá pra ter uma conversa séria com você. Como irei ser professora se não estudar, aprender a dar aulas?
— A técnica é necessário para ser professora isto é bem claro para mim. O resto é que se torna um problema. Um defeito.
— Que resto, criatura?
— A lembrança dos dias que se passaram. O que te machucou, o que te deu alegria, o brinquedo ganhado o outro quebrado. Os exemplos bons, os ruins.
— Não vejo defeito nisso.
— Quando algo novo acontece, você busca na sua caixa de memórias a resposta para lidar com a novidade. Preenche o novo com velho e vive uma vida todo assim. No final estará sempre no passado até ser tarde demais.
— Não é bom buscar no já vivido a solução de um problema? Vou além, projetar dias melhores com base no conhecimento adquirido?
— Não, Elisa. Toda chuva é nova e a aproveito quando ocorre. Cada pingo cai de forma diferente no solo, tem peso e tamanho diverso. Não os comparo com pingos antigos nem tempestade passada para me preparar para chuvas novas. Como já te disse eu só sei árvore e é isso que as árvores fazem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!