6 de agosto de 2021

Fins e começos



— Entendo, mas me nego. Prefiro matutar sobre coisas que simplesmente não compreendemos. Tens um nome? Poderia me dizer? 

— Pois não, chamo-me Gaspar. 

— Pois bem, senhor Gaspar, pense comigo: quando exatamente começa a vida?

— Que tipo de pergunta é essa? Que importa saber quando? 

— O senhor há de me dar razão de que o feto vive na barriga de sua mãe.

— Que diferença isso faz, menino?

— Saber quando algo começa ou termina é fundamental. Nosso cérebro funciona assim, não percebe? Fim do primeiro ato, início do segundo. Acabou o capítulo treze, iniciou-se o quatorze. O problema é que acho tudo isso bobagem.

— Se acha isso por que me aborrece com o assunto? 

— Penso que uma coisa vai aos poucos se transformando em outra; vida paulatinamente vai se tornando morte. O senhor está morrendo, nota? Eu estou e isso me entristece. Embora tal qual o início, não se sabe, ainda, precisar o fim da vida, todos sabemos que ele chegará. Só podemos afirmar que chegou depois que passou. 

— O que fazer, então? 

— Eis aí um grande dilema. Conhece a palavra dilema, não? Aquele termo que significa “sem saída”; um problema que qualquer solução possível é ruim. Para estes casos, penso que não há remédio.


Trecho de "Respeitável Benjamim"


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