5 de novembro de 2021

Demônio Vaidoso



Entra Vaidosa, agora vestida com um luxuoso vestido negro. Um extravagante chapéu e véu. Aproxima-se, chorando. Diz:

— Se eu tivesse sido eleita seria a mais bela das viúvas. Ao final deste ato choraria por ti por sete dias e sete noites. Todos comentariam de mim: ali vai dona Vaidosa enviuvou-se de Benjamim e sofre muito. Tão jovem e bonita, a pobrezinha. 

— Quanta bobagem! 

— Bobagem? E o seu caso? Aqui ficou Benjamim, aquele que sofreu a perda de Isalinda. Como sofreu e sofre o homem! O seu sofrimento é único! Não há outra alma que padece tanto. Ele se pergunta: por quê? Há Justiça? Não! Claro que não. Fora por toda vida um bom homem; temente a Deus, cumpridor de seus deveres, trabalhador. Nem palavrão proferiu. Mesmo assim perdeu tudo. Ele está cansado, mas ainda tem medo. Quer continuar sendo Benjamim mesmo depois; depois do fim... Não aceita dormir; não acredita que um dia o mundo seguirá em frente e ele nem será lembrado. Talvez uma foto no fundo de uma gaveta; um olhar triste de alguém que o conheceu. Depois este alguém também alcançará o último dia. Eu sou o seu demônio vaidoso; sua singularidade. Você não quer deixar de ser o que é, mesmo sabendo que é inevitável. 

— Tens razão. Eu deveria ter te escolhido como esposa. Talvez estivesse em paz agora.

— Pois então, mas agora é tarde. Tempo não volta, cada dia é único; cada minuto! Eu me vou, mas outros cinco demônios ainda vão te visitar antes do derradeiro momento. Aproveite cada segundo... 

Vaidosa pede ao público uma salva de palmas. Ele obedece e ela sai de cena após uma reverência de agradecimento.


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