10 de março de 2011

Estar Vivo por Bruna Maria



Bruna Maria, escritora, já teve um de seu contos compartilhados aqui no blog. (você pode lê-lo aqui) O que me chama atenção em suas palavras são as reflexões; o carinho de pensar com cuidado. Para quem quer saber mais sobre a autora, indico seu blog:


Eis seu texto recente que me chamou atenção: 
Como de costume, liguei o computador e abri o editor de texto. Minha atenção inicial logo se perdeu: porque, assim que o programa abriu, uma mensagem apareceu no lado direito da tela.

Recuperação de documentos
O Word recuperou os arquivos que deseja manter.
Arquivos disponíveis
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Documento 1 [Salvo Automaticamente] Versão criada (...), março de 2011

Aquilo não me era de todo estranho. Eu tinha uma vaga lembrança do que poderia ser. Mas para ter certeza mesmo do que se tratava, optei por clicar no Documento 1, para ver qual era o conteúdo do arquivo disponível elencado como salvo automaticamente.
E o arquivo, assim, foi aberto. Nele estava (ainda está) escrito:

“Estar vivo.”

Não. Aquilo não me era de todo estranho.
Então lembrei – que, um dia antes, fui capaz apenas de escrever aquelas duas palavras (estar, vivo), por mais que eu tivesse tentado por algum tempo outras combinações. Todas as demais palavras e ordens que intentei grafar naquele dia me tinham vindo com um ranço descritivo que não me levava a lugar nenhum, de modo que decidi por deletá-las logo em seguida de as ter escrito, deixando apenas aquele inicial e perdido “Estar vivo.” digitado ali. Depois, sem mesmo me dar conta do que, afinal, eu queria ao começar com aquelas palavras, acabei por minimizar o arquivo, deixando-o de lado, para poder resolver outras demandas mais urgentes do momento.
Naquele dia, o tempo passou, e eu me cansei. O computador foi então desligado com um pouco de desleixo. E o editor de texto ficou aberto, com as duas palavrinhas lá, em suspenso (e curiosamente pontuadas, com o ponto final), sem que eu me desse conta de as ter deixado lá.

“Estar vivo.”

Hoje, quando abri o arquivo, sem entender exatamente a natureza daquelas palavrinhas, cheguei a me questionar: e se o editor de texto não as salvasse automaticamente? Poderiam ter se perdido para sempre. Eu as esqueceria, sem dúvida, como se nunca elas tivessem sequer sido escritas. Nada mais me diriam, nenhum sentido elas poderiam me sugerir.
Mas talvez esquecê-las, no fundo, não fizesse tanta diferença assim, diante do fato de agora eu ter lembrado delas. Porque, sinceramente, não sei o que eu queria quando as escrevi, não sei o que eu queria com elas grafadas e pontuadas. Não consigo me lembrar o que eu pretendia fazer a partir delas. Não sei ao menos dizer se, verdadeiramente, eu estava pretendendo escrever alguma coisa quando as coloquei ali, emparelhadas e sozinhas, esperando que, em algum momento, eu voltasse para lhes dar alguma atenção.

O que eu queria. 
O que eu quero. 
Ou o que nós – alguns de nós, ou todos, cada um a seu modo – queremos...

“Estar vivo.” Salvo automaticamente.

2 comentários:

  1. Demorei, mas cheguei, rs.
    Fico feliz com a publicação aqui!

    Abç!!

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  2. Que isso, Bruna. Acompanho suas palavras por gostar mesmo. Sempre que é possível, divido-as com meus amigos.

    Um abraço.

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