19 de fevereiro de 2021

Favela Gótica de Fábio Shiva


Você é um bebezê, cheiroso ou zumbi? 

Favela Gótica do escritor Fábio Shiva foi lançado em 2019 pela editora Verlidelas e é uma história alucinante. Nele acontecimentos inusitados em uma realidade paralela peculiar misturados à atmosfera degradante levam o leitor a uma viagem inesperada e única. Nas 276 páginas do livro, acompanhamos a personagem Liana ou Lica e as consequências de sua dependência pela droga Z. 

A história começa com Liana acordando no barraco que divide com Samara, Galego, Mandrá e tio Biu já sentindo os efeitos da falta do tóxico. Logo surge a oportunidade para descolar algumas hóstias (o nome da cápsula de Z) com tio Biu que pede a ela para busca um tanto de maconha na boca do alto comando dos jacarés (que são jacarés mesmo!) para um playboy qualquer. A ideia era enganar o comprador da massa e usar toda a grana dele para comprar Z para todos do barraco. Contudo, o plano falha, na hora de voltar para o cafofo o playboy percebe o golpe e exige o seu dinheiro de volta. Há confusão, o sujeito morre e Samara se transforma em zumbi. Zumbi é a fase final da dependência de Z em que o usuário fica violento e devora cérebro humano. Liana foge do lugar e é aí que sua aventura começa de verdade. 

O texto de Shiva é sem frescura. Ao mesmo tempo que conta a história de Liana vai disponibilizando textos explicativos sobre a ambientação, chamados de "registros akáshicos. No final esses texto que parecem desconexos com a trama central se unem. Isso é bem criativo. Aliás, criatividade é a palavra que bem define o autor, já que seu mundo é formado por criaturas "não humanas" e eventos catastróficos que culminam numa aventura surpreendentes. Espere encontrar de quase tudo no que diz respeito a fantasia e ficção. Considere, também, não fazer ideia do que vai acontecer no capítulo seguinte. Isso é muito bom! 

Cada capítulo do livro é aberto com um desenho do autor e uma breve explicação do que encontraremos pela frente na leitura. Fique tranquilo, pois os resumos do que virá não são antecipações substanciais. São mais como um norte mesmo. Outro ponto positivo em "Favela Gótica" é o estado decadente do mundo da periferia. A divisão social que existe é bem nítida e a realidade paralela do livro não é tão distante da nossa nesse quesito. Favela continua sendo favela ainda que tenha jacarés e lobos. 

Resumindo: um livro autêntico com uma história envolvente e sem rodeias; de cunho social e fantasioso ao extremo. Com desenhos, explicações, acontecimentos e personagens  mirabolantes. Boa pedida para quem assim como eu gosta de originalidade. 

No fim ainda vamos saber do que o Z é feito.       

Fica a resenha e a dica.

Quer ler também? Compre aqui:

https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica 

Abraço!                        

11 de fevereiro de 2021

O primeiro dia



Os pés descansos e achatados de Flora pisam na terra fofa. Ele se desequilibra, as pernas dão passos desordenados, mas não cai. Afasta o boné verde e descorado do rosto; fita o céu escuro e passa com a mão sobre a testa brilhosa de suor. Que trabalhão! Aquela tarefa; a primeira ou a última, não sabia, pois começos e fins são tão parecidos, durava para sempre. Por falar em coisas que sempre duram, Flora também era uma delas. Antes fazia parte do nós, do conjunto, do tudo e então, sem motivo aparente se separou e passou a ser lavrador. O mesmo princípio se aplicava ao seu terreno que ainda não sabia se era fértil e algumas outras coisas ali (uma menininha reluzente, por exemplo). O problema era: como germinaria plantas num terreno escuro?

— Que acha de eu fazer manhã?

— Fazer é bom; melhor que pegar feito ou destruir.

— Sabe do que estou falando?

— Não preciso. Você fará e eu poderei ver feito e então julgar por mim mesmo.

A garotinha de rosto pequeno, cabelos prateados, brilhantes e volumosos gargalhou com vontade. Achava graça no modo de falar do sujeito que plantava sementes no escuro. 

— Que acha do meu brilho? Notou que o meu cabelo clareia? Que minha pele brilha? Que meus olhos esquentam? Olhe minha mão, ela tem luz!

— Grande coisa — Flora deu de ombros, fingindo não se importar. No fundo, morria de inveja da luz da Manhã.

5 de fevereiro de 2021

Desenho baseado no livro Ester

Minha filha Bárbara fez este desenho aqui com base em sua leitura do meu livro Ester: 


Não ficou o máximo? 

2 de fevereiro de 2021

Cartas no Corredor da Morte


Mas não vão ler nossas cartas? 

É um livro curtinho, mas muito interessante que conta a história de personagens centrais/narradores que se encontram no corredor da morte, cujos capítulos simulam cartas escritas de um condenado ao outro. Cartas no Corredor da Morte tem aquele fascínio estranho de compreender o que se passa na cabeça de um serial killer. Neste caso, de dois. 

O livro é escrito por duas autoras: Paula Febbe e Cláudia Lemes. A Paula escreve as cartas do Jonny Love, um sujeito viciado em sexo e outros prazeres que vai ser executado em três meses. A Cláudia faz a parte do Steve Gurniak, um russo de certa idade que julga estar numa missão importante; de limpeza e purificação. Tudo começa com Jonny escrevendo para Steve, relatando ser um grande fã e pedindo para que se correspondessem por cartas para "matar o tempo". Relutante de início, Gurniak cede aos poucos e uma amizade doentia começa a surgir daí. 

No decorrer da troca de correspondências, nós leitores, vamos descobrindo o que levou cada personagem a cometer os crimes que cometeram; detalhes de vida. Love é mais aberto ao contar suas aventuras enquanto Gurniak é mais reservado, embora orgulhoso. O fato de "a obra" do russo não estar completa é determinante no desenrolar da história. Você começa a ler "Cartas do Corredor da Morte" e não quer parar. Imagina que elas terminarão com a execução de Love, o mais próximo de receber a punição final, mas as autoras têm surpresas interessantes para o final. É uma virada e tanto! 

Resumindo "Cartas do Corredor da Morte" é aquele livro que lemos numa sentada. Bem escrito, direto, violento e um pouco excêntrico. Escrito por duas pessoas que concebem personalidades bem pontuais oas narradores/personagens principais. O final, criativo e bem pensado. Ah, na sinopse do livro diz que Paula Febbe e Cláudia Lemes são entusiastas no assunto de serial killer e já possuem carreira consolidada como escritoras do gênero. Isso dá pra notar pela leitura. 

Fica a dica e a breve resenha.

Abraço.