15 de dezembro de 2021

Demônio Rico



Entra Rica, trajando um conjunto social branco, camisa negra. Sapatos de salto alto, pretos, o cabelo solto. Ela porta uma maleta luxuosa. Coloca o objeto no colo de Benjamim.

— Aí está — ela começa.

— O que está aqui?

— Abra. 

Benjamim destrava as presilhas laterais da maleta. O compartimento se abre.

— Se tivesse se casado comigo teria todo esse dinheiro para prolongar os seus dias — continua Rica.  

— Nem todo o dinheiro do mundo pode comprar mais dias. Os homens lutam a vida toda para terem riquezas; consomem os dias juntando como já te disse e depois não há tempo para desfrutar. Desse mal, que Famosa não me ouça, tenho orgulho de dizer que não padeço. Nunca fui personagem de dar valor às posses. 

— O dinheiro ainda vai levantar mortos, Benjamim. Já imaginou? Poderia comprar o senhor do seu destino, mudar a história. E se o ato de execução de Isalinda fosse refeito? 

— Por mais que seja tentadora tal possibilidade, o ato está escrito e não se pode mudá-lo. 

— O pobre sempre arranja uma justificativa para sua pobreza; uma nobreza de mendicância, acho que te disse isso antes. Está morto, Benjamim e nem foi preciso esperar a final batida do coração. Está extinto desde sempre por causa da pobreza. Que venha a Certidão de Óbito, embora ninguém ligue. 

Rica fecha a maleta no colo de Benjamim. Agarra o objeto e saí do palco pela direita da plateia.


Trecho de Respeitável Benjamim