18 de março de 2022

Sem Sapatos



Ele afastou as flores murchas que ainda estavam grudadas em seu terno azul-claro, ajeitou a gravata cinza que estava sobre a camisa branca, conferiu se os joelhos voltaram a dobrar (que calça apertada!) e se levantou. Foi um movimento exagerado que quase o lançou ao céu. 

Olhando melhor para si mesmo, achou gozado o fato de trajar meias pretas, mas não sapatos. 

Os passarinhos piavam perto, o vento, quase visível o atingiu com força capaz de movê-lo. Segurou-se em uma árvore enquanto a gravata se movia desgovernada na frente do rosto. Batia contra o seu nariz, boca, emitindo som exagerado. Aliás, quem tinha aumentado o som do mundo? E qual era a intensão do vento? Bem, o vento queria levá-lo, dividi-lo, multiplicá-lo. Ele entendeu que a ideia da brisa forte era boa, afinal ele era coisa e coisas se transformam em outras coisas somando-se, dividindo-se. No entanto, ao final, continuam coisas. 

Isso, faltava-lhe alguma operação matemática!

Ou só sapatos...