30 de novembro de 2021

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho

 


O que pensamos depois que o coração para de bater?

O título do livro de Elif Shafak é "10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho" porque é o tempo que o cérebro ainda funciona depois que o coração para de bater. Não é só por isso, claro. O título faz referência aos pensamentos da protagonista depois de ser assassinada até que sua mente se finde completamente. Cada capítulo é nomeado por minutos restantes de vida: "Um minuto", "Dois Minutos" e assim por diante. Ah, tem capítulos que não são minutos e pode ficar tranquilo que depois que acabarem os dez minutos e os trinta e oito segundos o livro ainda continua! 

A história, como já dito, começa quando a vida de Leila Tequila termina em uma lata de lixo em Istambul. Nos minutos que antecedem a morte cerebral da personagem vamos conhecendo suas memórias e sua vida; fatos que a levaram até aquele derradeiro destino  Leila nasceu no sudeste da Turquia, filha da segunda mulher de um patriarca tradicional, mas que só descobriu quem era de fato a sua mãe tempo depois. É que a primeira esposa se passou tomou a maternidade da até então única filha da família para si. E tem muitos outros fatos envolvendo a personagem que culminam na sua fuga para a cidade grande. Ela é proibida de estudar, o pai não a defende depois de ser abusada pelo tio... 

Em Istambul Leila conhece outros párias como ela; pessoas que buscavam uma vida nova, distante do preconceito e do sofrimento que viviam em suas terras natais. Na vasta cidade, no entanto, a vida não é fácil e ela se vê imediatamente engolida pelos aproveitadores que a fazem uma garota de programa. O primeiro prostíbulo é ruim, o que a faz buscar melhores condições, mudando de local de trabalho e aprendendo como a cidade realmente funciona. O mesmo pode se dizer de seus amigos e de seu amor.

Shafak tem uma narrativa coesa, focada nas minorias e nas engrenagens suburbanas da grande cidade turca. Explica como os invisíveis vivem nesses lugares. Ah, e se passa em um período histórico conturbado!  Através de Leila vamos aprendendo como os sonhos são desfeitos, renascem e terminam numa lata de lixo. Bem, há a segunda parte da história que conta a resignação desses seres, as lutas para que pelo menos o fim seja digno. A autora diz em suas notas que as personagens do livro são fictícias, mas baseadas em histórias reais, o que fica bem claro para o leitor. Apesar de começar com morte, "11 minutos e 38 segundos" tem muita vida. 

Resumindo, um livro criativo desde o título que joga luz em uma parte escura da sociedade. Fala de preconceitos, de vidas tidas como insignificantes, mas cheia de valor e verdade. Se tem um ponto que vale uma crítica, seria sobre os responsáveis pelo que ocorreu com Leila Tequila. Esta parte é pouco explicado na história, embora, talvez, seja esta a intenção da autora. Que diferença faz saber mais dos assassinos se a vítima não importa à sociedade? De todo modo, eu queria saber mais... 

Fica a resenha e a dica de leitura. Vale a pena! 
Abraço.             

26 de novembro de 2021

Um



O carro vale um, assim como a casa, a TV, a cama, o celular. Ora, não era de se esperar diferente, pois um deve valer um preço. O trabalho de uma pessoa é remunerado por dia de trabalho. Compraria ela qualquer coisa que fosse única pelo preço do seu dia, afinal todo dia é único. Assim seria para tudo; uma noite de descanso; uma viagem; uma mãe; um pai. Obviamente que nem tudo há de ser único. Para essas coisas teríamos o dinheiro. 


     

17 de novembro de 2021

Arte em Movimento em Mogi Guaçu

Aconteceu no dia 7 de novembro de 2021 a entrega do 7º Troféu Arte em Movimento aqui em Mogi Guaçu. O evento se deu nas dependências do teatro Tupec no Centro Cultural da Cidade, homenageando o cantor e compositor Armando Moreli. Sim, o troféu deste ano levou o nome do talentoso músico. 

Com o apoio da Secretaria de Cultura, sob o comando do Jamelão e do Zep, o criador do prêmio, muitos artistas da nossa cidade e da região foram homenageados. Fátima Fílon, Marcos Cunha, Rosely Rodrigues, Olivaldo Junior, Diamantino Gaspar, Ubaldino entre outros receberam o troféu. Eu também! 

Ah, entidades culturais também foram lembradas, como a Academia Guaçuana de Letras que foi homenageada na pessoa de seu presidente Luís Braga Jr. O CUCA, o Coletivo Cultural foi lembrado na pessoa de seu representante o Rodrigo Peguin. 

Teve apresentação de balé e música com o próprio Armando Moreli, além dos Inspirados Rap Nascional. Outros artistas deram sua contribuição ao evento com suas palavras e performance. 

Ah, minha filha Bárbara também foi lembrada e fica aqui o meu agradecimento à Comissão Julgadora do Arte em Movimento pela lembrança tão importante para ela e para mim. Quer ver algumas imagens?












Fica o registro e o agradecimento!

Abraço. 

5 de novembro de 2021

Demônio Vaidoso



Entra Vaidosa, agora vestida com um luxuoso vestido negro. Um extravagante chapéu e véu. Aproxima-se, chorando. Diz:

— Se eu tivesse sido eleita seria a mais bela das viúvas. Ao final deste ato choraria por ti por sete dias e sete noites. Todos comentariam de mim: ali vai dona Vaidosa enviuvou-se de Benjamim e sofre muito. Tão jovem e bonita, a pobrezinha. 

— Quanta bobagem! 

— Bobagem? E o seu caso? Aqui ficou Benjamim, aquele que sofreu a perda de Isalinda. Como sofreu e sofre o homem! O seu sofrimento é único! Não há outra alma que padece tanto. Ele se pergunta: por quê? Há Justiça? Não! Claro que não. Fora por toda vida um bom homem; temente a Deus, cumpridor de seus deveres, trabalhador. Nem palavrão proferiu. Mesmo assim perdeu tudo. Ele está cansado, mas ainda tem medo. Quer continuar sendo Benjamim mesmo depois; depois do fim... Não aceita dormir; não acredita que um dia o mundo seguirá em frente e ele nem será lembrado. Talvez uma foto no fundo de uma gaveta; um olhar triste de alguém que o conheceu. Depois este alguém também alcançará o último dia. Eu sou o seu demônio vaidoso; sua singularidade. Você não quer deixar de ser o que é, mesmo sabendo que é inevitável. 

— Tens razão. Eu deveria ter te escolhido como esposa. Talvez estivesse em paz agora.

— Pois então, mas agora é tarde. Tempo não volta, cada dia é único; cada minuto! Eu me vou, mas outros cinco demônios ainda vão te visitar antes do derradeiro momento. Aproveite cada segundo... 

Vaidosa pede ao público uma salva de palmas. Ele obedece e ela sai de cena após uma reverência de agradecimento.