26 de fevereiro de 2015

Crítica sobre Estela pelo escritor Claudio Manoel

Ester, Estela ou Edissa?


O escritor Claudio Manoel se prepara para lançar o primeiro livro da sua obra-prima "Gaian". O título desse primeiro volume será Gaian, o Reinício. Em outra oportunidade ele disponibilizará mais detalhes. Mesmo assim teve tempo e disposição para ler Estela. Transcrevo a seguir a sua crítica que originalmente foi postada no Skoob (link aqui):

Eis um livro cheio de símbolos. Essa foi a minha impressão após acabar a leitura de Estela. Algumas vezes os símbolos estão em suas formas "brutas" e em outras são sutis como a brisa, culminando em uma discussão muito interessante no final do livro a respeito do maior deles. Uma coisa, contudo, ficou clara. A simbologia está mais amadurecida, pois, para mim, há uma diferença clara nesse termo entre Ester e Estela. Eu achei Estela um livro mais "adulto". Outro ponto forte é escrita. Ela é composta de frases curtas e isso muito me agradou, inclusive pela forma como os temas e suas ambientações foram colocadas. No outro lado, houve dois aspectos que não me agradaram um pouco. O primeiro foi a transição entre concepções. Eu achei que a transição aconteceu de forma muito rápida. O segundo é um detalhamento um pouco mais aprofundado de personagens. A história é bonita e senti falta disso.
Outro detalhe que me chamou a atenção foi de uma possível ligação entre Estela e Edissa (outro livro do autor). Em determinada hora, eu gostaria de estar com o segundo livro e verificar se há mesmo essa ligação.

Enfim, eu adorei a leitura e fico grato por conhecer mais um livro do autor.

Meus parabéns, Paul Law. 

Eu é quem devo agradecimentos, amigo autor. 
Grande abraço e sucesso sempre. 

20 de fevereiro de 2015

Espetáculo “A Passagem”

 

Ontem às 20h no CECOM (Centro Comunitário da Vila Dias) foi apresentado o espetáculo teatral “A Passagem”. A direção ficou por conta do escritor e professor de teatro Joseph Martins do Núcleo dos Escritores de Moji Mirim. Eu que também faço parte do Núcleo mais a escritora Fátima Fílon estivemos lá.  Também notei a presença da Conceição, diretora do CECOM e o amigo escritor Eder Marçal.

Joseph Martins explicou que o texto da peça foi escrito pelos próprios atores, todos seus alunos do curso de teatro de férias promovido pela Cia Usina de Teatro com o apoio do CECOM. O resultado foi uma apresentação original e um trabalho bem feito.

Os atores eram adolescentes em sua maioria e o palco foi organizado com a finalidade de simular uma passagem. Em outras palavras, havia um corredor entre o público e as cenas aconteciam ali. O enredo, por sua vez, era focado na história de uma menina que estava cansada de como as coisas funcionam no mundo e da sua vida. Sua ideia era acabar com o sofrimento e os outros personagens tentavam persuadi-la a realizar o ato final ou a desistir dele. Tudo muito bem organizado no escuro. Isso mesmo, cada ator tinha a sua luz própria que era acesa quando ele interagia no espetáculo.

Foi muito interessante assistir “A Passagem” e constatar que há pessoas fomentando a arte na nossa região. Parabenizo o escritor e diretor Joseph Martins e os seus talentosos alunos. Que bonito é ver a juventude respirando arte. Ponto pra Cia Usina de Teatro e o CECOM.

Abraço.

18 de fevereiro de 2015

La Bandida: Começando pelo fim (de novo)


Quanto tempo? Não era possível dizer com certeza, afinal de onde se encontrava não conseguia distinguir dia de noite. O fornecimento de comida não obedecia uma ordem, apesar de longo. Sabia que era pouca para sua estatura. De certo, para prolongar o sofrimento, mas não se deixaria abalar. O seu nariz arrebitado não se abaixaria; os seus olhos grandes e negros não expressariam a humilhação. Seu cérebro moldado não admitia perturbações, por mais que suas condições físicas fossem adversas. Dessem-lhe um revólver e uma bala e estaria salva. 
Em pé, com as costas sobre o fundo da cela ela observava a porta de ferro. O traje, um saco estopa aberto no fundo para transpassar a cabeça e cortado na altura dos braços, de fácil manuseio aos guardas que zelavam pela cadeia. Arisca, arredia, xucra, tantos outros adjetivos carinhosos que lhe pertenciam, tiveram de ser deixados para trás. Não era prudente reagir ali. 
O som das trancas já era esperado por causa do barulho dos passos.  O visitante não. 
— Deus, o que fizeram com ela? — indagou consternado o homem de batina ao fitar a prisioneira.
Além de desnutrida a mulher que era mantida presa, tinha feridas nos ombros, joelhos e cotovelos. De vários tamanhos e em vários estágios de cicatrização. O rosto, exceto pelos lábios secos e rachados, se mantinha em ordem, assim como os compridos cabelos negros. Algumas costelas tinham se rompido quando levou a primeira surra, mas já havia passado tanto tempo que acreditava ter se curado.    
— Reverendo, e o que ela fez a muitos homens? — respondeu-lhe o guarda que abria a cela. 
— Que Deus tenha piedade dela e de nós. 
O religioso pediu licença ao soldado e aproximou-se da prisioneira. Ela se afastou, ligeiramente. Pediu para que não tivesse medo, pois estava ali para conceder-lhe o perdão divino. Que tudo acabaria naquele mesmo dia. 
Um revolver e estaria salva, não Deus. Quando o padre terminou suas orações e se dirigia para a saída do cubículo prisional, ouviu:
— Ei padre ainda hoje meterei uma bala na cabeça de Roland Morrison. 
O religioso suspirou e deixou o local. Imediatamente adentraram no recinto dois guardas para conduzir a prisioneira ao enforcamento. 
— Não batam. Também não há tempo para gracinhas — disse um terceiro que ficou à porta. 
Eles agarraram a mulher e a algemaram. Cada qual de um lado forçou o movimento. As pernas da prisioneira vacilaram por algumas vezes e um dos soldados deu-lhe uma joelhada nas costelas. Ela não tinha força para gemer. 
— O chefe disse pra não bater. 
— Fica na sua. Acha que ele mesmo não vai se despedir dela? 
— Não importa o que eu acho. Vamos acabar logo com isso. 
Conduziram-na pelos corredores da prisão e pararam na sala principal da delegacia. Ali, atrás da mesa e com uma estrela amarela do lado esquerdo do peito estava Roland Morrison.
— Olhe só para você. Meus Deus, como está linda! — sorriu o xerife. 
A mulher manteve-se silente, mas os olhos expressavam fúria. Suas duas mãos vinham algemadas, voltadas para trás. Os homens da lei ainda ficavam ao seu lado.
— Mae, Mae, percebeu que não é bom negócio ficar no meu caminho?
Mae Dickson, abaixou os olhos. Não era prudente demonstrar descontrole.
— É verdade que tem mais Bandidos rondando Neo Texas? 
Aquela pergunta do xerife Morrison ajudou-lhe a acalmar. O efeito foi contrário nele.  
— Responda, porra! — Ele se levantou após socar a mesa com o punho.
A prisioneira disse: 
— Eu e você aqui e agora, o que acha? 
Roland sacou o seu revólver e apontou para Mae, recuperando a tranquilidade abalada a pouco. 
— É isso que você quer? Quer colocar a mão em um cabo de revolver e salvar o mundo? O mundo está salvo, Mae. Eu o salvei, estou salvando de pessoas como você. 
— Eu só quero te matar. 
— Todos querem — o xerife girou a arma entre os dedos e a depositou no coldre. 
Mae tentou dar uma cabeçada no inimigo, mas foi contida pelos guardas. Morrison revidou á tentativa de agressão com um soco direto no nariz da prisioneira. O sangue mancha o seu precário vestido de saco.
— Oh droga. Você deve estar apresentável para a execução. Cuidem do nariz e depois levem-na à cozinha. Estão preparando sua última refeição. 
O sangramento estancou alguns minutos depois, mas foi desconfortável para Mae saborear o que havia pedido na noite anterior como última refeição. Arroz, feijão, carne de porco e salada de alface. Poderia repetir quantas vezes quisesse, mas se limitou a uma única vez, bem caprichada. Por volta das treze horas em Neo Texas era conduzida à execução. 
Os mesmos policiais fizeram o trabalho de colocá-la a forca da praça central. O local comportava muitos curiosos. Alguns repórteres registravam o evento em suas cadernetas e outros, luxuosos, através da máquina fotográfica de filme. Morrison que já estava na plataforma de execução acenava para todos os flashes barulhentos. 
Ele tomou a palavra quando Mae já se encontrava em cima do caixote de madeira velha e com a corda em volta do pescoço.
— Povo de Neo Texas, é com muita alegria que estamos aqui hoje para cumprir a condenação de Mae Dickson. Antes, contudo, gostaria de ponderam sobre o entendimento que muitos possuem da palavra que sempre acompanhou a prisioneira em sua carreira criminosa: Bandida. Atualmente tem-se a impressão de que bandido é o termo usado para caracterizar aqueles que não concordam com o governo, mas em tempos remotos o termo era usado para denominar quem cometia crime. Não se enganem, o conceito continua sendo o mesmo e é por isso que Mae está sendo condenada a morte. Ela cometeu diversos crimes, todos sabem. Matou muitas pessoas e roubou diversos bancos.
Ninguém ousou contrariar o xerife. Ele continuou:
— Mae é a primeira. Em breve todos os Bandidos serão enforcados para o bem comum da população de Neo Texas e de todo Novo Oeste.
A população bateu palma, contrariada. Roland sorriu e se aproximou de Mae. Encostou os lábios na orelha da prisioneira e disse-lhe:
— Vá para o inferno — e deu um chute no banquinho que impedia o estiramento completo da corda amarrada ao pescoço de Mae. 
     

5 de fevereiro de 2015

A primeira resenha de Estela

 

Como anunciado anteriormente, o blog Cemitério dos Posts Esquecidos fez comentários sobre Estela. Não foi só o respeitável blog que teceu opiniões sobre a obra que pretendo lançar em breve e antecipo os meus agradecimentos a todos os parceiros que se comprometeram a ler o livro. Aos poucos vou transcrever aqui o que os leitores betas estão achando de Estela. Hoje transcreverei a resenha do Cemitério dos Posts Esquecidos, feita pelo amigo Allison Feitosa. A postagem original do blog pode ser lida aqui. Peço licença ao autor para reproduzi-la a seguir:

Estela fecha a trilogia independente fantástica do autor nacional Paul Law que brilhantemente cria uma mitologia própria incorporando características de outras mitologias em um mundo paralelo ao nosso.

Estela é uma senhora com a idade já avançada que acorda em um hospital sem saber a razão de estar ali e encontra uma boneca falante em cima de sua maca dizendo que está ali para protege-la. Como se não fosse demais, seu médico é na verdade o Tempo que lhe dá um ''tempo extra'' de vida para que ela possa resolver algumas questões... em outro mundo!

''Surpreendeu-se com o fato de ver e ouvir daquela maneira. Só se dava conta de como era ser jovem, agora que recuperara de fato a juventude. As pernas ganharam rigidez, a pele esticou-se e os cabelos adquiriram cor. Estava tão empolgada com a possibilidade de ser moça novamente que não prestou atenção nos dizeres de Tempo.
- É o seu tempo extra.'' Pág. 19

Ester é uma jovem que sofre um acidente de carro e perde a memória de longo prazo, os médicos já tentaram de tudo, mas ainda procuram uma cura. Até o momento em que a garota que não conseguia lembrar de nada por muito tempo lembrar das notas do violino e começar a escrever uma história que jura ser uma experiência já vivida. A história de Estela.

O que acho incrível e muitas vezes perturbador é o modo como Paul brinca com nosso discernimento do que é real ou imaginação. Além de guiar os próprios personagens em uma teia de acontecimentos paralelos ao mundo real, o autor acaba brincando com o emocional do leitor, que não consegue largar o livro até ter todo os mistério da vida de Estela e das pessoas ao redor resolvidos. Ou não.

É uma leitura leve e fluida e o autor solta ao decorrer da narrativa vários mistérios e nos apresenta uma mitologia rica de estórias e personagens com várias referências à Alice no País das Maravilhas e Crônicas de Nárnia, apresentando-nos características de um deus até então desconhecido por várias religiões já existentes. Os personagens em suas lutas paralelas faz da ideia do livro algo genial, o que muitas vezes nos faz perguntar: o que realmente está em segundo plano na estória?

'' - Partimos nesta manhã e já desejas chegar? A tua espécie é curiosa, Estela. Quando querem algo, querem para logo, mas quando precisam ser responsáveis protelam por tempo!
- Que ódio tem por nós, Fauna!
- Não é ódio. Isso também é exclusividade de vocês.'' Pág. 49

Li Ester (o livro que abre a trilogia) em 2013 e me encantei com o mundo criado pelo autor. Cheio de personagens fortes e cativantes a trilogia traz uma aura de magia e fantasia que remete a livros clássicos universais. Como já li muita literatura nacional fantástica eu já percebi que nossos autores tem uma espécie de fórmula ou alicerce quando vão escrever seus romances... é então por isso que gosto tanto da escrita de Paul, ele consegue fugir da fórmula e nos trazer algo inovador. Recomendo demais a leitura de Estela. É um livro cheio de ensinamentos nas entrelinhas que vai te deixar preso no mundo criado pelo autor e com uma pontinha de saudade da enxurrada de eventos que encontramos no decorrer das páginas. 4 estrelas!

Adicione ao skoob | Me acompanhe no Instagram

É isso aí!

Abraços.

3 de fevereiro de 2015

O Enigma e o Espelho

 

Temos o mundo e não o contrário

Mais uma vez Jostein Gaarder faz romance com filosofia. Dessa vez, no entanto, concentra sua escrita na condição humana. O Enigma e o Espelho é um livro que explora o conceito de humanidade até suas últimas consequências. Apesar de curto, rápido e de fácil leitura (como é característica do autor) não se trata de leitura superficial. Pelo contrário, somos provocados a pensar.

A obra conta a história de Cecille, uma jovem que por conta da doença não pode desfrutar completamente da festa de Natal e da presença dos familiares. A menina passa a maioria dos seus dias na cama em seu quarto, apenas escutando a agitação lá fora. Apesar da sua tênue idade e da gravidade da enfermidade, ela não deixa de fazer planos; de sonhar com o dia em que poderá experimentar os seus esquis novos (o presente daquele Natal). A família não tem as mesmas esperanças…

A vida da garota ganha nova perspectiva quando começa a receber a visita inusitada do pequeno anjo Ariel. É com ele que ela começa a descobrir muitas coisas, principalmente as peculiaridades de ser quem ela é. Ariel por sua própria natureza não faz a mínima ideia do que é ser humano. Ela vai lhe explicando e ele retribui contando como é ser um anjo e as características do Universo, assim como as de Deus. É do anjo que Cecille descobre não pertencermos ao mundo, mas, por conta da nossa brevidade existencial, o mundo nos pertence. No tempo em que estamos vivos, Deus nos dá o mundo todo de presente. Só por isso ela já se sente agradecida. Mas não é só essa reflexão que a protagonista alcança. Muitas outras, mas não me cabe estragar a surpresa.

O Enigma e o Espelho faz referência filosófica a vários temas interessantes. Gaarder, dessa vez leva a sério o título do livro de Nietzsche “Humano, demasiado humano” ao explorar os sentimentos, as deduções e visões que só podemos ter a partir de nós mesmos. O câncer de Cecille que a princípio poderia provocar no leitor diverso sentimentos (pena, compaixão, temor, identificação, etc.) e garantir a emoção, não tem esta finalidade. Isto, para mim é genial e foge ao comum “A Culpa é das Estrelas”. Aqui, Cecille está doente e o pior pode mesmo acontecer, mas não é por isso que sua história vale a leitura. Como dito, é o entendimento que tal condição impõe à protagonista.  A situação da menina é justamente para fazer com que paremos para pensar, nem que para isso tenhamos que estar doente (como de fato ocorre com muitas pessoas).

O Enigma e o Espelho é um livro em dois planos: real e imaginário. Tem conclusão satisfatória em ambos. Comparações com “O Pequeno Príncipe” não podem ser evitadas. Escrever na linha fina entre o real e o fantástico é um dom de poucos e que conta muito com a participação do leitor, afinal, ele deve se deixar levar pelas borboletas do imaginário. Gaarder sempre conta com seus leitores, realizando um trabalho simples, intenso e rico. Tudo isso porque ele planta e nós cuidamos para que dê flores.  Ótimo livro (de novo).

Fica a resenha e a dica.