Os pés descansos e achatados de Flora pisam na terra fofa. Ele se desequilibra, as pernas dão passos desordenados, mas não cai. Afasta o boné verde e descorado do rosto; fita o céu escuro e passa com a mão sobre a testa brilhosa de suor. Que trabalhão! Aquela tarefa; a primeira ou a última, não sabia, pois começos e fins são tão parecidos, durava para sempre. Por falar em coisas que sempre duram, Flora também era uma delas. Antes fazia parte do nós, do conjunto, do tudo e então, sem motivo aparente se separou e passou a ser lavrador. O mesmo princípio se aplicava ao seu terreno que ainda não sabia se era fértil e algumas outras coisas ali (uma menininha reluzente, por exemplo). O problema era: como germinaria plantas num terreno escuro?
— Que acha de eu fazer manhã?
— Fazer é bom; melhor que pegar feito ou destruir.
— Sabe do que estou falando?
— Não preciso. Você fará e eu poderei ver feito e então julgar por mim mesmo.
A garotinha de rosto pequeno, cabelos prateados, brilhantes e volumosos gargalhou com vontade. Achava graça no modo de falar do sujeito que plantava sementes no escuro.
— Que acha do meu brilho? Notou que o meu cabelo clareia? Que minha pele brilha? Que meus olhos esquentam? Olhe minha mão, ela tem luz!
— Grande coisa — Flora deu de ombros, fingindo não se importar. No fundo, morria de inveja da luz da Manhã.
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