16 de janeiro de 2015

A Garota das Laranjas

 

Estou no passado ou no presente?

Jostein Gaarder é conhecido no mundo todo por mesclar filosofia com ficção. Sua obra de mais impacto foi “O Mundo de Sofia”, já resenhada aqui, mas o repertório é longo, como podemos observar em “O Dia do Curinga” (resenha aqui) e agora em “A Garota das Laranjas”. A premissa é a de sempre: mostrar que a filosofia permeia a vida das pessoas, mesmo que elas não parem para pensar nisso.

Em “A Garota das Laranjas” conhecemos o adolescente Georg Roed, cuja vida não difere de outro garoto da sua cidade. Com sua mãe, padrasto e irmã ele vive tranquilamente até descobrir uma carta deixada por seu falecido pai. A longa mensagem de despedida prometia contar uma fascinante história, mas exigia que o seu leitor fosse maduro o suficiente para entendê-la. Por este motivo (e por não haver mais tempo para o remetente) foi que ela teve de ser escrita ao invés de contada diretamente. É que na época o seu destinatário era muito novo. Assim, pai e filho se encontram nas páginas da longa carta, mesmo estando em tempos diferentes; mesmo um deles estando morto.

O pai de Geog faz esta reflexão sobre o tempo. Como era possível que estivessem se relacionando através daquela carta, agora, vários anos após sua morte? Não era assustador? Enquanto escrevia pensava no filho do futuro, embora ali se encontrasse o filho do seu presente, um garotinho de três anos. E agora que aquela carta era lida, onde estaria ele, o autor? Com isto em mente é que a história da garota das laranjas se descortina, fazendo com que passado e presente se misturem a fim de elucidar o maior mistério da vida: o amor entre duas pessoas.

Diferente dos livros anteriores, Gaarder aborda a realidade de outra forma. Aqui ele não parte do fantástico para a realidade, mas o inverso. O surpreendente se verifica nas relações humanas, cotidianas. A filosofia é apenas o detalhe questionador, o freio para se “parar e pensar”. Em outras palavras, partimos do real para a fantasia de forma sutil e gradativa. Entretanto, sua forma simples de contar e velocidade continuam as mesmas. É um livro para ser lido rapidamente e se pensar por muito tempo.

“A Garota das Laranjas” é um livro fino, mas nem por isso de conteúdo reduzido. Há informação sobre nós mesmos e do que entendemos por tempo, amor, vida e morte. Uma provocação filosófica que tem vários frutos após a leitura. Eu ainda os colho. Afinal, quem é (ou o que é) a garota das laranjas? Você tem uma? O que você está fazendo (ou o que fez) enquanto eu escrevia esta resenha? O que estarei eu fazendo enquanto você lê?

Fica a resenha (e fica mesmo) e a dica.

Abraço.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!