29 de janeiro de 2015

Rosa de Sangue



Bruno e Raira tinham feito a promessa de que não deixariam nada separá-los. Corriam de mãos dadas, unidos, em fuga pelo salão iluminado por holofotes coloridos e giratórios. O lugar estava cheio de pessoas, era uma armadilha, como não pensaram? 
Ela, linda, era construída para ser assim. Pele perfeita, perfume de rosas. Os cabelos, até mesmo naquele momento, se comportavam de forma amena e cobriam-lhe as costas. O vestido branco era simples com decote saliente e pérolas enfeitavam seu pescoço. 
Ele nunca tinha vivido algo daquela natureza. Até então vivera apenas para fazer cumprir a lei como se fosse predestinado. Agia sempre dentro dos ditames legais, quase sempre, melhor dizendo. Não ali, não agora. Ofegava de cansaço, mas a mão unida a dela dava-lhe fôlego extra. 
Nada mais era loucura. Tê-la ali, justificava tudo.
— Talvez tenha sido um erro, Bruno. — ela disse quando pararam no meio do salão. 
Bruno mal pôde ouvir, dado o som que vinha do palco. Ele interpretou como se fosse a hora e sacou seu revolver.
— Que venham! — engatilhou a arma. 
Ela o abraçou e com a cabeça em seu peito ouviu o barulho do coração. Sorriu, estava sentindo. Fosse o último dos seus momentos, fosse o que fosse, ela estava vivendo. 
A luz se apagou; a banda silenciou e ouviu-se tumulto. Gritos e empurrões e por último o disparo.
Antes que a luz pudesse voltar, Bruno sentiu o abraço de Raira afrouxar. Não podia ver, mas os seus outros sentidos intensificaram o que temia estar acontecendo. Ele gritou enquanto as mãos da amada se abriam de vez. Abriam-se para nunca mais abraçá-lo.
A iluminação retornou subitamente. O salão estava vazio e Raira jazia em seus braços. Ao olhar com mais atenção, Bruno notou o ferimento mortal. Ele tremia, não acreditava no que os seus olhos identificavam. Sob o tecido branco do vestido de Raira, na altura das costas, agora formava-se o desenho sinistro: uma rosa de sangue.   

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