18 de março de 2015

Tomo II - Metade gente, metade máquina


Um tapa. O braço direito de Mae automaticamente sacou a arma e encostou o cano na cabeça do agressor. O zunido agudo emanou daqueles dois corpos. A mulher estava deitada e sobre ela um homem grande. Os olhos de ambos, fixos. A respiração rápida. Ela o empurrou.
— Está maluco? Eu poderia ter te matado.
— Eu me defenderia. Bem, acho, sei lá — ele se senta ao lado.
O revólver foi devolvido ao seu local de origem e os olhos de Mae voltaram a coloração verde. Então ela se coloca sentada e faz o reconhecimento do local: A tenda, uma delas.
— O que houve?
— Você apagou quando cheguei. Até quando vai ficar fugindo de mim?
— Eu não estava fugindo.
O caubói não pôde esconder o riso. Depois disse:
— Vamos a minha carroça.
Ambos se levantam. Mae sentia o ferimento do ombro, pois a bala ainda estava alojada em seu corpo. Procurou não demostrar a dor e caminhou ao lado do homem conhecido até uma carroça a frente. Nas ruas outras pessoas exploravam a vila ou montavam tendas. Não eram muitos. O grupo de Damian Wayne não tinha mais do que seis caubóis.
— Deve estar doendo pra cacete — falou Wayne ao abrir a porta da grande carroça metálica.
— Deite-se — ele disse.
— Faça algo que dure dessa vez.
Damian sorriu novamente. Respondeu:
— O problema não é o que eu faço, mas o que você faz do que eu faço.
— Fale a minha língua.
— Esqueça.
Mae deitou-se.
O pistoleiro examinou os desenhos em verde neon que serpenteavam os braços e abdome. Era como se as veias brilhassem sobre a pele.
— Você realmente não aprendeu nada sobre a avermelhamento, não é?
— Vai começar com aquela baboseira de que os obsoletos inventaram mine-robôs que interagem com o corpo humano?
— Não, Mae. Você sabe. Só vou comentar sobre os efeitos visuais de que as coisas não estão bem. Vê a tonalidade do verde? — ele apertou o braço da pistoleira.
— Não tenho tempo para ficar observando se está mais ou menos verde, Damian.
— A avermelhamento é um instrumento para te ajudar a sobreviver. Precisa conhecer suas ferramentas! Ela é como os revolveres que porta na cintura, além de funcionar em conjunto com eles. Sem manutenção e cuidado, não vai funcionar.
Após o sermão pediu para Mae abrir as mãos e analisou os pulsos. Havia dois orifícios pequenos, um em cada punho.
— Você perdeu muito sangue, por isso o verde perde tonalidade.
— Eu sou constantemente baleada. Antes de chegar até aqui havia sido atacada por diversas vezes. Tudo estava funcionando bem até o tiro de fuzil.
— Eu já não te disse que a imprudência mata? — Damian acendeu um cigarro.
Depois puxou dois canos metálicos que estavam enrolados, posicionados lateralmente e os plugou nos pulsos de Mae. Em baixo do divã localizava-se um pequeno tanque de metal de onde saíam os tubos.
— Os obsoletos tinham um sistema parecido com este para passar sangue de uma bolsa ao corpo de uma pessoa — ele comentou.
— Os antigos podiam fazer o que queriam — Mae devolveu.
— Parece que hoje você tirou o dia para repetir o que já conversamos.
— Não estou repetindo, só não me conformo. Ainda me assusta o fato de não poder ser eu quando estou em combate.
— Você é você sempre. Acha que ganhar campo aberto no meio de um tiroteio não é coisa sua? — falou Wayne.
— Você me entendeu, Damian.
O caubói mantinha os olhos numa pequena tela que estava pendurada ao lado do divã.
— O número de nano-robôs estabilizou. Você já pode se queixar com propriedade.
Mae puxou os tubinhos dos pulsos. O verde-neon das suas linhas brilhavam com intensidade.
— Não adianta reclamar.
— Mae é sério. Você vai acabar tendo o que deseja.
— Eu não tenho desejos. Eu só preciso lutar para me manter viva, não é assim?
— Matar ou morrer — Wayne apagou o cigarro contra a parede metálica — Agora saia da minha carroça.
A mulher deixou o local sob o olhar do líder daquele grupo de bandidos. Quando a porta se fechou ele sacou o maço do bolso para um segundo cigarro.
Lá fora Mae também tinha um cigarro entre os lábios e o pensamento no dia seguinte. Quantos mais sobreviveria? Sorte ter sido alcançada por Wayne ao invés de mais inimigos? Quem queria enganar, o maldito estava lhe seguindo. Estava tentando protegê-la e isso a deixava com ódio dele. Não era mais a menina da lavoura que fora vendida pelo pai para que o resto da família não passasse fome. Por falar nos pais, veio-lhe à mente aqueles acontecimentos

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