11 de setembro de 2015

Tomo XVI - A virada


Seis pistoleiros conversavam sobre o novo ataque. Um mapa bem gasto estava estendido sobre a bancada de metal da tenda de Xamã. Mae e Bruce escutavam atentamente os dizeres do chefe, enquanto Damian fazia piada com Carter e Sandler. 
— Ok. Damian por ser o mais interessado, ficará com uma parte importante do ataque a Prime.
— O que? — Wayne se espantou — Você disse Prime, a cidade mais antiga de Novo Oeste? Enlouqueceu de vez. 
Bruce descruzou os braços. Disse:
— É de Prime que vem as armas dos policiais. Foi lá que encontraram todo o armamento deixado pelos obsoletos. 
Xamã sorriu. 
— Exatamente. Vamos nos apossar do armamento. Armar todos da Tenda e acabar com esta guerra de uma vez por todas. 
— Senhor, eu não quero ser pessimista — Sandler mediu suas palavras com cuidado —, mas o local deve ser fortemente vigiado. Somos apenas seis.
— Você não está sendo pessimista, Tomas. Isso é sensatez. — falou Damian. 
— Prestem atenção — Xamã voltou-se para o mapa — Eu sabia da existência deste mapa, quando esperei aquela comitiva de Liandra. Ele é uma rota de contrabando de armas. Vamos nos infiltrar pelos túneis. Saquearemos as armas diretamente dos contrabandistas. Não haverá confronto com policiais. 
Todos ficaram em silêncio como se refletissem ao mesmo tempo sobre a estratégia do líder. Ele mesmo continuou:
— Damian e os novatos entram primeiro pelo túnel — apontou no mapa. — Eu, Bruce e Mae ficamos do lado de fora. Depois invertemos. Ganhamos tempo com a manobra. 
Wayne sacou o seu revolver e apontou para o nada. Disse:
— Se vamos primeiro, teremos que dar conta dos ocupantes do túnel, é isso? 
— Sim. Procurem não deixar que voltem. Aqueles que ganharem a saída pode deixar que damos um jeito.
— Parece bom pra mim — Mae deu de ombros. 
Após todos os detalhes acertados, partiram para Prime que não estava muito longe do local onde a Tenda havia se instalado. Bruce comentou com Mae que Xamã já havia traçado aquela estratégia há um tempo, mas que só agora comunicava aos seus comparsas. O místico tinha dessas coisas...  
Já na saída do túnel usado pelos negociadores de armas o grupo de seis cavaleiros se dividiu em dois conforme o plano. 
— Dê-me um — Mae apontou para os lábios de Parker. 
— Desde quando você fuma? — indagou o pistoleiro enquanto observava os outros comparsas sumirem pelo túnel. 
— Desde agora. 
Ele bateu a caixinha na palma da mão e puxou um cigarro. Entregou a Mae. Quando ela colocou o câncer entre os lábios, ele o acendeu. Ela tossiu.
Bruce Parker estava quando antes mesmo dos seus ouvidos reconhecer o trotar de cavalos. Xamã já tinha a mão no coldre quando fitou aquele terrível horizonte. Quantos? Talvez mais de cinquenta policiais sacudiam a poeira da estrada. 
— Oh, merda! — disse ele.
Mae deu um palpite:
— Rápido, vamos fugir pelo túnel. 
Xamã tirou a mão da arma;
— Não seja tola! E levar os inimigos ao encontro dos nossos outros companheiros? Alguém deu com a língua nos dentes, maldição! 
— O que faremos, Xamã?
O líder ergueu os braços. Os policiais se aproximaram dos três bandidos que sugeriam rendição. A comitiva era assustadora, mas apenas cinco cavalos tomaram a dianteira. O primeiro a descer do animal era um homem extremamente magro e alto. Os braços pareciam desproporcionais, as costas encurvadas. A cabeça coberta por um chapéu negro, escondia os olhos, mas era visível a barba alva, os dentes metálicos. 
— Ora se não é o afamado Xamã — ele falou. 
Sua voz era aguda, não condizente com aquele corpo assustador. 
— Morrison — Xamã sussurrou.
Bruce Parker tinha os olhos voltados para o chão e aquilo surpreendeu Mae. Nunca vira o pistoleiro de cabeça baixa. Ela o ouviu dizer:
— Sinto muito, Mae. Ele está com a minha filha e disse que a mataria se eu não entregasse Xamã. 
As palavras não fizeram sentido no começo. A decepção era tamanha que tirava-lhe o raciocínio. 
Ainda de cabeça baixa ele se aproximou dos policiais. Xamã não conseguiu esconder seu descontentamento:
— Então é você! Traidor, filho da puta! Eu o tinha como um filho! Um filho!     
Morrison abriu os longos braços num gesto grotesco, como se esperasse o abraço de Parker. Ele não ocorreu, mas o xerife disse:  
— Os filhos são assim, Xamã. Não vale a pena se sacrificar por eles.  
— Eu quero ver Janni, agora! — o bandido traidor apontou o dedo entre os olhos de Morrison. 
— Mas é claro. Primeiro preciso acertar alguns detalhes. Eu preparei uma festa muito especial aqui mesmo em Prime.
Morrison fez alguns gestos com as mãos, incompreensíveis aos pistoleiros. Aproximaram-se mais oito policiais. 
— Treze é um bom número, não acham? — o xerife sacou seu fuzil. — Vamos atirar, mas não se preocupem, eu os quero vivos para a festa.
Mae viu aquele homem mirá-la. Os olhos saltavam-lhe do rosto, acinzentados. Não tinha sobrancelhas, mas cicatrizes. Teve medo. 
— Um, dois, três!

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