1 de novembro de 2016

Elogio à Loucura de Isa Oliveira


O que houve com a Brigite?

A obra "Elogio à Loucura" da escritora Isa Oliveira está em sua terceira edição. Este número demonstra o interesse do público em sua leitura. Não é difícil entender o motivo, já que se trata de um livro interessante, que conta a história de uma idosa ao descobrir que possui poucos dias de vida. Todas as implicações de saber da brevidade da vida, do tempo perdido até ali e das frustrações de uma vida que poderia ter sido diferente estão lá.

Dulce, a narradora e também personagem principal, começa a escrever impelida pelo álcool. Ela compra uma garrafa de vinho de boa qualidade com quase todos os proventos de sua aposentadora e resolve escrever um livro de contos. Inspirada também pelo poeta Fernando Pessoa, a narradora divaga e o seu objetivo inicial vai se dissipando aos poucos. Ela acaba contando a própria história. É uma velha de sessenta e seis anos que acabou de descobrir que tem câncer. Dulce não tem medo de morrer, pois segundo ela, está morta a mais de trinta anos, desde que fechou o seu coração para o amor, após separar-se do marido, com quem tinha dois filhos.

Logo após relatar sua experiência fracassada com o casamento, Dulce conhece Anselmo, um peculiar psicólogo que está procurando uma cadela para namorar com o seu pastor belga. Eles se conhecem justamente por causa deste motivo. Dulce tem uma cadela, a Brigite, que nunca namorou e coloca um anúncio no jornal à procura de um pretendente. Anselmo responde ao anúncio e enquanto os cachorros se conhecem, os donos fazem o mesmo. Na verdade, Anselmo vai mostrar a Dulce uma outra maneira de ver a vida e um tipo de amor que ela desconhece. 

Um livro bem amarrado, uma história simples, mas capaz de emocionar em muitos momentos. Isa tem uma sensibilidade incrível e um modo muito franco de inserir assuntos controversos. É preciso mencionar o seu empenho em colocar exemplos convincentes de pessoas que sofrem com o câncer; de instituições que cuidam de pessoas com esta doença; casos de quem a venceu e de quem não teve a mesma sorte. Ainda somos brindados com adendos especiais sobre como proceder ao lidar com este mal, seja em nós ou em um ente querido. 

Embora num primeiro momento o título possa parecer um pouco deslocado, ele se justifica. Sutilmente a autora introduziu a loucura em mais de uma forma, inclusive. Há loucura boa... Há momentos em que é preciso ser incoerente, inconsequente. O final é previsível desde o começo, mas como ele se desenrola não. A função de Anselmo na trama também é clara quase que imediatamente. Entretanto este fato não tira o mérito da autora em conseguir trabalhar no campo da fantasia. 

Em resumo, um livro rápido emocionante que relata os dias finais de alguém muito doente. Você pode escolher viver os seus últimos dias ou se lamentar por tê-los. Dulce descobre um pouco tarde que durante quase toda a sua vida escolheu olhar para trás ao invés de seguir adiante. Pelo menos nestes últimos dias ela mudou sua visão. Sua vida foi salva. 

Fica a resenha e a dica.      

Um comentário:

  1. Conheço a autora fui aprendiz dela. Pessoa maravilhosa me inspirou a escrever meu primeiro livro.

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