13 de março de 2017

O primeiro capítulo de Estela


I
Eu também tenho uma boneca


O dia começou cedo para Ester, Ernesto e Tamires. Ainda não tinha amanhecido quando o trio se encontrava em um dos corredores do Hospital Escola. Era rotina estar ali pelo menos duas vezes na semana. Conheciam pessoas que tinham sina similar e também ocupavam os bancos do lugar naquela oportunidade. Era natural, também, observar a falta de alguém. Fosse pela morte, ou pela cura, havia aqueles que simplesmente sumiam. Ester observava a tudo com novidade. Muitas histórias eram ouvidas ali, mas se perdiam como a própria existência daquelas pessoas. 

Ernesto e Tamires não encaravam a situação da mesma maneira, mas tentavam fazer o que era preciso da melhor forma possível. Assim como as demais pessoas, conversavam sobre o tratamento, instalações e médicos. Vários assuntos surgiam, alguns repetitivos, era verdade. A médica com traços indígenas era um deles. A faxineira toda tatuada, era outro, assim como o bêbado que muitas vezes era posto para fora do local. Uma rotina agitada, tensa e com muita gente, não importava o horário, o que fazia quererem estar em outro local. Mas tinham de estar ali por causa de Ester. 

De repente, algo que não era rotineiro ocorreu. Ouviram choro, passos apressados e conversas. A porta dupla do final do corredor se abriu bruscamente e revelou uma paciente sobre a maca, acompanhada de enfermeiros e familiares. O casal se limitou a inclinar o corpo para facilitar a visão, mas Ester se levantou, atenta ao que vinha.

A maca foi encostada próxima aos acentos ocupados por Ester e sua família. Os funcionários do hospital informaram às três pessoas que acompanhavam a enferma que logo voltariam e afastaram-se ligeiros. Definitivamente, aquilo não era comum, afinal, os pacientes da emergên-cia não ficavam naquela ala. Permaneceu ali um homem, uma mulher e uma menininha que portava uma boneca. O homem conversava com a mulher que chorava. A criança mantinha-se silente, assim como Ester que a tudo observava. Ester se lembrou de que também tinha uma boneca. 

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