12 de abril de 2019

Benjamim e Rica



A luz se apaga. Outros bailarinos entram no palco pelo lado esquerdo. São seis moças que começam a dançar “O Lago dos Cisnes” de Peter Ilich Tchaikovsky. São suaves, leves e imponentes, quase que iguais fisicamente, trajando collant e saia tutu negros; meia-calça branca e sapatilhas pretas. Rodeiam Benjamim e dançam alegremente. A música cessa e uma delas faz uma reverência ao rapaz. Fala:
— Saudações, sou princesa e desejo me casar com o senhor! 
As outras bailarinas fazem o mesmo e dizem as mesmas palavras. Benjamim se afasta e responde:
— Sei bem quem são, mas francamente não me agrada ser cortejado. 
— Qualquer um de nós poderá te dar felicidade! Eu sou Rica. 
— Rica? — pergunta Benjamim. 
— Sim, diga-me o que deseja. Moedas de ouro? Súditos? Uma coroa cravejada de diamantes! Dentre as seis pretendentes sou aquela que pode de dar tudo! 
— Já parou para pensar em riqueza? Eu, certamente, apesar de estarmos nos conhecendo agora. O grosso livro chamado dicionário bem diz que riqueza é ter grande quantidade de dinheiro, posses, bens materiais, propriedades.
— Exatamente o meu caso — Rica estufa o peito ao dizer estas palavras.
— Não digo o contrário, mas raciocine comigo: temos dias contados sobre a Terra; temos batidas certas de coração para dar. Pouco tempo para usufruir e preferes gastá-lo para juntar? São duas ações diferentes usufruir e juntar e não se pode fazer as duas ao mesmo tempo. O meu receio é passar os meus poucos dias amontoado coisas ao invés de desfrutá-las. Seria terrível se Sempre Assim passasse mais uma vez e me dissesse: seu tempo acabou! Depois viria a senhora Finda Perecida e me diria: ora de ir! Eu ficaria desesperado, olharia para trás e pensaria no quanto ainda tenho que fazer; no tempo que gastei fazendo algo ruim ao invés de uma coisa boa. 
— Desculpa de plebe. Eu sou princesa, meu pai era rei, meu filho, aquele que gostaria de ter contigo será rei. Não precisará juntar, pois já juntaram antes dele. Dinheiro não trás felicidade? Balela! 
— Sei que para um rico é difícil pensar em não ser rico. Preferes se preocupar com posses, planos, construções e ações que busquem aumentar seu patrimônio do que ter paz. Mesmo que tenha muito e que todos os seus dias sejam insuficientes para gastar o que já lhe é herança, ainda assim não terá paz. Pensará que podem lhe roubar; que o dinheiro está acabando; que lhe tratam com segundas intenções. A paz não é para os ricos. 
— Não me importo com a paz desde que haja fortuna. Case-se comigo e seja feliz! 
— Eu me importo com a paz.  
Rica não consegue esconder sua frustração. Palavras pulam do seu cérebro para a boca, mas ela as segura com os lábios. Pensa, repensa, tem vontade de insultar Benjamim, mas se contém. Na ponta dos pés, com as mãos na cintura dá uma volta ao redor do jovem, ganhando mais calma. Ela tem uma reputação a zelar, um status a manter. O que dirão as outras princesas? Então finaliza:
— Ouvirá as outras pretendentes e verás que sou um bom partido, a melhor na verdade. Uma lástima que não note agora. Depois de todas e se eu ainda te querer, poderemos ficar juntos.
A Princesa Rica sai pela esquerda pisando alto. A música do começo do ato começa a tocar e Benjamim dança com as outras cinco princesas. Quando a música cessa, uma delas está nos braços do rapaz. É uma mulher ofegante, forte, magra, de cabelos louros, arrumados num coque tradicional. 

Paul Law, Mogi Guaçu, 20 de março de 2019

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