15 de setembro de 2021

A verdade não é boa


— No que está pensando? — pergunta Má, aproximando-se. 

— Apenas na música. O som sempre me pareceu importante. Passos, passarinhos, violino. Um tapa; o vento nas folhas ou as folhas no vento. As coisas costumam reagir com barulho quando são tocadas. Um defeito grave que os livros possuem é este: falta de som. Seria incrível se houvesse um livro musicado, não concorda? 

— Verdade, sons são especiais. Penso no barulho de um corpo estatelando no chão; ossos quebrando.

— Quem é você que é tão pessimista?

— Sou a Princesa Má, aquela que foi deixada de lado por você e sua amiguinha Corajosa. Que ficou sem se apresentar e te propor casamento. 

— Bobagem. Cá estou em tempo de te ouvir. 

— Pois bem, eu sou sua melhor opção, veja só. Sou realista, franca e direta. Os melhores homens gostam dessas qualidades. 

— Não posso discordar. 

— Todas as pessoas são essencialmente más, mas fingem o contrário. Eu não. Deixei de fingir, assumi o que sou e desde então vivo contente. Se me permite, você também deveria fazer o mesmo. Assumir que não é normal; que tem problemas. Admitir algo é o primeiro passo para superá-lo.

— Talvez tenha razão. 

— Claro que tenho. A verdade não é boa. Verdade é verdade. Case-se comigo e toda esta confusão terá fim. O espetáculo chegará ao ato final sob palmas e excitação. Mesmo o melhor dos atores precisa se despir de personagem uma ora ou outra, não é?


Trecho de Respeitável Benjamim

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