2 de fevereiro de 2024

Barulho de Grilo



A luz da área se acendeu. Sentado na mureta que circundava a casa, Artesão teve a atenção retirada das estrelas. Banhada pela luz amarela, sob o arco da porta da cozinha viu Nara. Ela tinha os cabelos castanhos armados, o olhar marrom sonolento, a boca rachada e algumas sardas sobre o nariz pontudo. Vestia uma camisa rosa, grande e rasgada no ombro direito. Ao final das pernas alvas aparecia o pé esquerdo descalço e o direito coberto por uma meia preta. O silêncio que Nara carregava no bolso descosturado da camisa caiu no chão por causa do barulho de grilo. Ela se aproximou de Artesão, agachou-se e o abraçou. Deu-lhe um beijo nas costas desnudas. O barulho de grilo sumiu. O construtor virou-se, sorriu, agarrando a mão cheia de calos da amada. Os olhos de ambos se encontraram sem obstáculos. Ele queria contar a ela que era árvore agora; que tinha encontrado paz, mas sabia que não precisava; que ela já sabia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!