15 de dezembro de 2014

O desejo de Natal

 

Denis procurou uma vaga para estacionar o seu veículo. Não era um carro do ano, mas servia-lhe bem. Também não era feio. Estava no Shopping, eram dias de Natal. Junto dele estavam Soraia, sua esposa, Julieta e Jussara, as filhas.
— Pare em qualquer lugar, pai — disse-lhe Julieta, a primogênita.
— Sim, mas não acho vaga.
Mais algumas voltas e reclamações, achou uma vaga distante. Estacionou e desceu junto da família para aquele programa característico. Jussara ia ao colo da mãe, tinha dois anos. Julieta, já com os seus cinco anos, ia de mão data com Denis.
As lojas piscavam atrativas e muitas pessoas preenchiam os corredores do Shopping. Toda a cidade estava ali? Denis não se sentia á vontade em lugares cheios. Soraia o acalmava com sorrisos e beijos. As meninas observavam tudo, comportadas. Família.
— Vou ver uns brincos aqui — disse-lhe a esposa, passando a pequena Jussara para ele.
— Não demore — respondeu, já ciente de que seu apelo não seria acatado.
Denis se sentou em uma pequena mureta que cercava o jardim central. Jussara quis se desvencilhar do seu abraço. Ele deixou. A menininha ficou ali por perto observando a irmã equilibrando-se sobre a mureta.
— Desça, Julieta.
— Estou andando sobre a prancha. Há tubarões lá embaixo.
A imaginação sempre foi fértil em sua filha mais velha. Mundos, personagens, histórias fantásticas baseadas nos incontáveis DVDs que assistia. De tempo em tempo, era um personagem diferente.
— Sou a Wendy, pai. O Peter Pan virá me salvar.
O pai sorriu. A filha caçula trepava na mureta para imitar a irmã. As coisas funcionavam daquela maneira para todo mundo. Era um ritual, uma rotina quase implacável. Tal qual uma planta, o destino de um homem não cabe muitas novidades. Nasce, cresce, casa, tem filhos e morre, era o que pensava. Mais ainda: comemoram o Natal com compras e festas. A essência daquele ritual não era importante para aqueles que por ali transitavam. Pano de fundo, justificativa, pretexto para gastar. Ele, pelo menos, estava ali para agradar sua família.
— Desça, filha! Sua irmã está tentando fazer o que você está fazendo — protestou.
— Por causa dela eu não posso brincar?
— Pode, mas brinque de outra coisa.
— Que chato!
Julieta desceu e emburrou. Jussara fez o mesmo e isso a deixou ainda mais irritada.
— Para! — reclamou.
— Para! — Jussara respondeu com sua linguagem enrolada.
— Ela tem você como exemplo, Julieta. Devia se orgulhar disso.
— É pai, mas por causa dela eu não posso brincar.
O pai tentou mudar de assunto.
— Então, já decidiu o que vai pedir ao Papai Noel.
O solhos de Julieta se iluminaram. Ela disse:
— Sim, claro.
— E o que foi?
— Eu pedi para que me faça voar!
— Voar — repetiu a irmãzinha.

2 comentários:

  1. Paul, lindo conto! Me senti presenciado a cena, tão corriqueira nos inúmeros shoppings da região. E tão bonita, singela... Parabéns!

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  2. Obrigado pela leitura e comentário, meu amigo. Abraço.

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