11 de junho de 2015

Deus Foi Almoçar



e aproveitou para tirar uma soneca

O escritor brasileiro Ferréz é conhecido por escrever sobre a realidade da periferia no que chamam de “literatura marginal”. Tem trabalho na TV e diversos livros publicados, mas em “Deus Foi Almoçar” ele aborda temas existenciais. Uma história fragmentada, uma vida estilhaçada e uma rotina que teima em dizer que tudo está bem.

Calixto é o personagem central. Homem divorciado que vive longe da sua única filha e trabalha no arquivo morto de uma empresa sólida. Abraçado pela rotina e pela solidão ele começa a refletir sobre o sentido da vida e a importância das coisas. Perdido em todos os sentidos, experimenta, repete ou apenas se deixa levar por sensações. Ferréz mistura dois tipos de narrativa para contar a rotina de Calixto num curioso jogo entre narrador onisciente e personagem narrador. É Deus e Calixto contando?

Um livro de leitura difícil seja pela forma como os capítulos são dispostos (aleatórios aparentemente), seja pela narrativa confusa, ora de fora, ora de dentro do personagem ou ainda pela cronologia imprecisa. O efeito que se tem, segundo este leitor, foi de que havia uma vida inteira quebrada (tal qual pedacinhos de vidro) e jogada sobre a mesa. Ao final tanto leitor, quanto Calixto (por que não Deus?) se encontram. Original, sem dúvida.

Muitas reflexões podem surgir de “Deus Foi Almoçar”. Dentre elas a sugerida pelo próprio título e explorada sutilmente pelo autor ao longo da obra. Deus foi almoçar. Saiu, se foi, não faz nada. A comparação com o próprio Calixto é pertinente já que ele se encontra afastado da filha e a ama muito, embora não possa fazer nada por ela. Há algo entre eles. Há algo entre Deus e nós. Outra e não menos curiosa é sobre realidade. Personagens de livro que refletem sobre o que são e o deus que possuem. Não podem ver além. A obra tem sua pegada filosófica, ainda que de forma discreta.

Como dito anteriormente não é um livro fácil de ler, o que pode gerar um julgamento precipitado por parte de alguns leitores. Ferréz pode cansar os seus leitores, é verdade. Entretanto não há como negar a originalidade do autor e sua capacidade reflexiva. Uma obra de vários significados e madura.

Fica a resenha e a dica.   




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