28 de setembro de 2015

A Paz do Homem


Quando alguém deixa de existir é comum ouvirmos a expressão “descanse em paz”. A interpretação que me vem é a de que para ter paz é preciso morrer ou pelo menos descansar. Daí, alcanço a dedução de que é difícil alcançar a paz. Indo mais longe é quase uma utopia pensar em paz verdadeira e já explico os meus motivos.

Nossos dias são tomados por várias tarefas. A maioria delas é necessária para se alcançar determinado objetivo. Um curso para uma profissão rentável; um trabalho bem feito para uma promoção na empresa; uma poupança para um carro melhor; um investimento para aumentar a clientela. Nada é feito à toa. Sempre que fazemos algo, imaginamos colher os frutos das nossas ações e quando isso ocorre, sentimos o que chamamos de realização, satisfação, sucesso, felicidade. Há muitas palavras, mas não há paz.

Para haver paz é preciso existir o que temos no sono ou (quem sabe?) na morte: despretensão. Já reparou? Quando dormimos não pensamos nos benefícios de uma boa noite de sono, embora eles existam. Adormecemos e pronto. O ato de dormir exaure-se em si mesmo. Em outras palavras, adormecer é adormecer, nada além disso. 

Podemos levar esta premissa à Natureza. Nela não existe acontecimentos prévios, cuja necessidade seja conscientemente justificada para a obtenção de outra coisa. Apesar de sabermos que é preciso chuva para florir; que é necessária terra boa para a semente ser convertida em planta, tanto a planta quanto a semente não possuem a capacidade de pensar que se não ocorrer chuva, se não existir terra apropriada, não haverá existência. As coisas simplesmente acontecem e vão continuar acontecendo. O vento venta e só. Por isso, ele está em paz.

Tal qual o vento que é o que faz, deve ser o homem em paz e é por isso que é tão difícil sê-lo. O homem não sabe o que fazer; não achou sua natureza e cada vez mais se distancia do caminho que poderia levá-lo a ela. O contrário a paz, obviamente é a guerra, a violência, a insanidade, muitas vezes vestida de hipocrisia. Neste contexto, o homem simula a paz. Os mais sensíveis percebem que há algo de errado no Mundo, embora não possam afirmar o quê. Eles acabam sendo contaminados pelo tempo em que vivem e se tornam grandes hipócritas. Então se frustram; não desejam ser falsos, artificiais. É contra a natureza humana fingir; é contra a natureza do universo. É contra a paz. É por tudo isso que o homem só alcança a paz em sonhos ou nos braços da morte.



Texto originalmente publicado pela revista Vara do Brasil Especial: Paz na Terra e no Coração. Eis o link para baixá-la:


  

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