13 de outubro de 2015

O que há de errado com o mundo - G.K. Chesterton


O título não tem nada a ver com o texto

Escrito em 1910 pelo filósofo, poeta, desenhista, historiador e teólogo Gilbert Keith Chesterton, "O que há de errado com o mundo" é um livro atual e brilhante, mas que não deveria ter este título. Na própria introdução da obra é explicado que o autor chamou seu apanhado de ideias de "O que há de errado", um título mais abrangente, coerente, menos pretensioso. A ideia de colocar "com o mundo" veio dos editores e compromete a intenção motriz do autor, que é apresentar ao leitor uma visão geral do que ocorria com a sociedade e suas pessoas no início do século vinte e que tenderia a se agravar ao longo dos anos. Nunca foi sua intenção conceber um manual prático e definitivo de como lidar com todos os erros do mundo. 

Chesterton que eu conheci nas páginas da obra resenhada, é um homem de visão singular. Capaz de demonstrar com clareza as condutas que julga desconexas com um mundo justo. Homem de pensamento religioso bem desenvolvido, tenta trazer ao ávido mundo do comércio os princípios de divisão e de amor ao próximo pregado na Igreja, fazendo duras críticas ao sistema que tenta transformar todos em certo padrão comportamental. Neste raciocínio, podemos citar o seu estudo pontual sobre a posição das mulheres na sociedade do início do século passado e sua previsão de como as coisas seriam após a importante decisão de conceder a elas o direito ao voto. É formidável o modo como o autor interpreta os acontecimentos e pode formular suas ideias. Sua análise dos pontos negativos do que a maioria das pessoas entende como algo positivo é deveras revelador. No caso das mulheres, o seu argumento central foi justamente a padronização. Sem entrar no mérito da questão que por si só renderia vários textos e debates, o fato é que hoje podemos identificar com facilidade que sua crítica tinha e tem pertinência. É comum nos deparamos com artigos que falam da não existência de diferenças importantes entre homens e mulheres. 

Suas palavras sobre Educação também são atuais, embora mais conservadoras. Adepto à disciplina, respeito ao mestre e a instituição, tece previsões do que ocorreria dali a alguns anos com o enfraquecimento do modelo por conta da liberdade experimentada naqueles anos. Na verdade todos os capítulos de "O que há de errado" estudam o que está acontecendo e apontam os caminhos seguintes, sejam positivos ou negativos. Em alguns pontos o autor se dispõe a debater política, o que parece ser com propriedade. Para mim, neste ponto, o texto deixou de ser claro. Talvez pela própria complexidade atinente ao tema. Em outros, porém, como o seu título de "Príncipe do Paradoxo" sugere, sua habilidade de se fazer claro foi louvável. É o caso do entediamento de Liderança.

Um texto rico, atual, pertinente que merece ser lido mais de uma vez. Se a vida é um texto a ser interpretado, Chesterton prova com propriedade que para tanto há a necessidade de muito estudo. Mais que isso, é exemplo de que estudar o passado é um modo de se preparar para o futuro. Apenas pelas palavras que deixou em sua obra Um homem fantástico, de mente aberta e criativa. 

Fica a resenha e a dica.  
Abraço.              

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O livro parece ser ótimo. Quero lê-lo!

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    1. Sim, meu amigo. É uma leitura muito boa. Obrigado pela visita e comentário. Grande abraço.

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  3. Olá Paul.

    Visitando o seu blog me deparo com este post. Incrível! Li este mesmo livro há alguns meses. Apesar de ler na tradução, acredito que ela seja muito boa, pois o que mais chamou minha atenção foi a riqueza do texto, neste sentido linguístico. Não sei se isso chamou sua atenção também.
    Uma pena Cherterton não ter um círculo maior de leitores no Brasil. Também, as opiniões dele não teria um espaço muito grande entre os bien pensant do nosso país. O senso comum da dita "intelectualidade" não permitiria tamanha ousadia. Mas ao menos algumas pessoas o leem. E fico feliz que você esteja entre elas.

    Forte abraço.

    Paulo Uzai

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    1. Que ótimo ler o seu comentário, Paulo. Pois é, achei isso também sobre o motivo deste autor não ser tão conhecido. O que me agradou foi a originalidade e o modo franco do autor. Não é por nada, mas há muitos autores que falam a mesma coisa só que de modo diferente. No caso de Chesrterton o texto é bem inovador. Fico pensando na bagagem cultural deste autor...

      Abraço.

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    2. Que ótimo ler o seu comentário, Paulo. Pois é, achei isso também sobre o motivo deste autor não ser tão conhecido. O que me agradou foi a originalidade e o modo franco do autor. Não é por nada, mas há muitos autores que falam a mesma coisa só que de modo diferente. No caso de Chesrterton o texto é bem inovador. Fico pensando na bagagem cultural deste autor...

      Abraço.

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  4. Correção, Chesterton. :-)

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