5 de novembro de 2015

Tomo XXII - Pare agora


— Pare! — uma voz em meio aos presentes soou estridente.
Morrison buscou com os olhos o ousado. Não o encontrou. Ele tomou a frente, vinha com mais alguns caubóis e uma jovem mulher.
— Tenho uma ordem de cancelamento de execução — era Bruce Parker. 
Roland desfez o sorriso imediatamente. A última vez que vira aquele homem foi na cadeia. Reconheceu a menina ao seu lado, estava mais bonita, mais moça, chamava-se Mary.
— Achei que estivesse preso, Parker. O trato não foi trocar sua liberdade pela da pequena Mary? Percebo que ela não está mais tão pequena... 
— Muita coisa aconteceu, xerife.
Então ele contou que os telespectadores de todo Novo Oeste tinham os olhos vidrados nos telões instalados nas praças centrais da cidade quando Mae matou o próprio filho. Tinham capitado todo o diálogo, toda a cena. Custavam a entender como uma mãe que acabava de reencontrar o filho, o tinha matado mesmo contra a sua vontade. Havia algo de errado, todos sabiam, embora não pudessem compreender exatamente o quê. 
Foi chocante. Horrível. O assunto dominou as manchetes dos jornais. Apesar de estarem acostumados à violência, as pessoas não estavam familiarizadas com a ideia de pessoas da mesma família se matando. Tal cena observada em uma tela grande e brilhante, alheia ao cotidiano, teve um efeito impactante. O telão que deveria ser usado a partir dali para entreter os trabalhadores, acabou se tornando um símbolo opressor. Ninguém ousava ligá-lo. 
— Fui posto em liberdade depois que uma ordem de Aquária chegou a Neo Texas.
— Ordem de Aquária? Quem dá as cartas sou eu!
— Não mais — falou-lhe Parker.
Então ele contou que até mesmo em Neo Texas o espetáculo almejado pelo xerife Morrison teve repercussão. Ao invés de mostrar ao povo o poder da Polícia frente aos Bandidos, acabou transmitindo a crueldade daqueles dias. A falta de humanidade dos que empunhavam o revólver. A própria Lei do 30 começou a ser questionada. As prisões começaram a ser revistas.
— Há em Aquária um novo movimento. Ele ganhou força após a transmissão do duelo entre Mae e Raul. Chama-se Associação. O próprio xerife de lá é um dos adeptos — continuou o ex-bandido sem que ousassem interrompê-lo.  
Ele explicou que obviamente não houve mudança significativa após a primeira e única transmissão televisiva de Novo Oeste. As cidades-indústria continuavam a existir com seus xerifes ambiciosos e donos de toda a riqueza da região, mas, eles agora tinham que ser mais humanos. Talvez fosse o início de algo, ou apenas passageiro. Fato é que os trabalhadores despertaram certa consciência. Era preciso compreender o que estava errado, já que o primeiro passo tinha sido dado: reconhecer o erro.
— Foda-se tudo isso, Parker. Eu sou o dono de Novo Oeste! Tenho a Polícia! Se eu disse que vou executar esses dois bandidos é porque eu vou executá-los. Depois vou pensar em algo especial para você e a jovem Mary.
— Não ouse colocar as suas mãos sujas novamente em Mary — Bruce sacou sua arma. — Prendam ele! — Morrison ordenou.
Ninguém obedeceu.
— Não me ouviram? O que está acontecendo aqui? 
— Até mesmo os policiais são seres humanos, Roland — Bruce continuou. 
O xerife olhou em volta. Viu todos os seus homens de braços cruzados. Sentiu a tensão do momento, da rebelião, da morte iminente, tinha o faro apurado para essas coisas. Sorriu, deu de ombros. 
— Certo, Parker. Deixe-me ver o documento. 
Bruce guardou o revolver no coldre e se aproximou. Entregou o envelope ao xerife. Ele leu com calma.
— Então é isso? Um bando de macacos achando que sabem alguma coisa de direito. Ok, então vamos fazer como querem. Tirem os dois da forca. 
Dessa vez sua ordem foi obedecida. Ele se retirou imediatamente. Parker assentiu aos policiais que levaram os prisioneiros de volta ao cárcere. Damian se livrou deles e avançou na direção do ex-parceiro e mesmo algemado tentou agredi-lo com chutes.
— Seu desgraçado! Traidor, filho da puta! Você viu o estado de Mae? 
— Eu acabei de salvá-la — Parker se afastou.
— Deve estar adorando isso, não é? Vai derrubar o Morrison e ficar no lugar dele? Me solte, Parker! Me deixa enfiar uma bala no meio da sua cabeça! 
— Levem-no — Bruce se virou.
Ele ainda custava acreditar que tomara partido naquilo tudo, julgando uma atitude impensada e deveras imprudente. Não conseguia manter-se longe de problemas; da traição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!