11 de março de 2016

O homem justifica o seu erro com o erro alheio



Otávio é um homem resolvido. Não perde tempo com bobagens, nem procura justificar suas atitudes. Para ele, se está atrasado, tudo é válido. Se há possibilidade de ganho, tudo pode ser feito. Ele não é o único a pensar assim. Há um sistema e ele funciona bem. Ele se lembra de uma frase que leu em algum lugar ou ouviu de alguém: A melhor defesa é o ataque. Não havia como atacar agora. Nunca imaginou que um dia seria cobrado das ínfimas atitudes que praticou em prol do sucesso. Ainda mais por um demônio. 
— Achei que o diabo não existisse  ele rasteja para o canto do seu apartamento. 
O capacete gótico é recolhido para dento da armadura, como se houvesse derretido. Bélica revela o seu rosto.
— Não sou ele. 
 Eu peço perdão! Não me mate! 
— Quem disse que vou te matar? Eu só desejo entender. Vivi incontáveis eras, lutei inúmeras guerras e arquivei minhas conclusões sobre sua espécie para novas batalhas, mas há algo em você que não entendo.
Otávio se senta. Ele ainda está no chão. Afrouxa sua gravata. 
Bélica continua:
 Como pode se sentir bem, sabendo que uma atitude sua prejudica inúmeras pessoas? 
— Eu não sou o único que faz isso. Todo mundo faz! 
 Isto é suficiente para aplacar o remorso? Para te dar paz? 
Otávio nunca havia pensado nisso.           

2 comentários:

  1. Amigo e confrade, Paul Law:

    Você consegue trazer a reflexão sem trazer peso.

    Comecemos pelo título. "O homem justifica o seu erro com o erro alheio", lembrei-me de Adão. Eva foi enganada pela serpente, como Adão era o responsável, Deus cobrou dele e ele disse: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi." (Gênesis 3:12); ou seja, o homem justifica o seu erro com o erro alheio.

    "— Como pode se sentir bem, sabendo que uma atitude sua prejudica inúmeras pessoas?
    — Eu não sou o único que faz isso. Todo mundo faz!
    — Isto é suficiente para aplacar o remorso? Para te dar paz?
    Otávio nunca havia pensado nisso."

    Vivemos na era do ressentimento - recomendo a leitura do livro "A Era do Ressentimento", do Pondé -, entretanto, podemos viver na era do ressentimento, sem que ressentimento viva dentro da gente. As pessoas ficam ofendidas com qualquer coisinha. Fazer o quê? Elas ficam. E se ficam precisamos tratar. Remorso implica em arrependimento e arrependimento implica em pedido de perdão. Perdoar é preciso e pedir perdão é necessário!

    Perdoe-me amigo, por alguma atitude irresponsável minha. Perdoe-me pelas minhas mazelas e limitações. Perdoe-me pelos meus pecados e faltas.

    A ordem é esta: remorso - arrependimento - pedido de perdão - paz na alma e no espírito.

    Se todo mundo faz, nós também já fizemos. Porém, ficamos com remorso, nos arrependemos, pedimos perdão e agora estamos em paz.

    É isso.

    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Luís,

      Mais uma vez agradeço por seu acréscimo ao meu pequeno texto. Minha intenção é mesmo esta: provocar um pensamento, uma reflexão. Acho que imito o que a leitura faz comigo: ela me dá asas. Que tenhamos todos este dom de voar por nós mesmos. Abraço.

      Excluir

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!