17 de maio de 2016

Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez


Cem anos premeditados

Antes de mais nada, é preciso que se diga que não se deve julgar um livro pela capa. O exemplar que tenho de "Cem Anos de Solidão" é tal qual este da imagem que abre a resenha. Ele é velho, a capa com esta "cena de amor destacada". A edição é da Editora Record e o ano de sua publicação foi 1967. Infelizmente de portá-lo as capas se soltaram, mas ele aguentou firme até a última página. Devo dizer que sentirei falta do seu cheiro de mofo e de suas páginas amarelas.  

Cem anos de Solidão é o livro mais famoso do escritor colombiano e vencedor do Nobel de Literatura de 1982 Gabriel García Márquez. Nele, conhecemos as diversas gerações da família Buendía e o vilarejo fictício Macondo. Principalmente a relação entre os dois. Tudo começa com o patriarca da família José Arcadio Buendía nos primeiros dias de Macondo. Ele é um homem de imaginação aguçada e que é facilmente ludibriado pela magia dos ciganos. Por falar em ciganos, há um em especial que exerce fascínio sobre o patriarca Buendía. Ele se chama Melquíades e é dele que vem os misteriosos pergaminhos que deverão ser decifrados pelos Buendía. José Arcadio é casado com a matriarca Úrsula, e possuem dois filhos: José Arcadio e Aureliano. A partir daí estes nomes se repetirão nas gerações seguintes da família sempre marcando dois tipos de personalidade. Os José Arcadio (tal qual o primeiro Buendía) são impulsivos, voltados ao trabalho e às paixões, ao passo que os Aurelianos são reservados, tímidos e solitários.

Gabriel García Márques possui um modo singular de engendrar a trama e seus personagens, o que, num primeiro momento pode ser confuso, sobretudo se levarmos em conta o fato dos nomes de vários personagens se repetirem ao longo da história. Contudo, desvendar as ligações, os ciclos e o próprio tempo arquitetado pelo autor é desafiador e gratificante. O modo como se interligam os vários núcleos do enredo é algo incrível, de modo que o leitor pode vislumbrar uma história maior, uma espinha dorsal na qual todos os Beundía e seus próximos estão atrelados.

Mesmo nos núcleos menores é possível entender as pequenas histórias e se apegar ao mágico de cada personagem. É o que ocorre com o Coronel Aureliano Buendía, o primeiro Aureliano, e sua guerra liberalista. Também com Remédios, a mulher mais bonita que o mundo já viu ou Aurealiano Segundo e sua provável troca de personalidade com o gêmeo José Arcadio Segundo. Vale o destaque para Maurício Babilônia e suas borboletas amarelas, as da capa desta edição inclusive.

Cem Anos de Solidão tem um viés fantástico que descreve a realidade de maneira emblemática. É como se a fantasia fosse a metáfora para descrever o real. Como se os exageros da irrealidade pudessem marcar as injustiças advindas da ignorância e da pobreza. Mais que isso, como se o surreal fosse a única maneira de interpretar uma vida sofrida e predestinada ao esquecimento. Ao final, quando os lendários pergaminhos de Melquíades estão para ser decifrados pelo último Aureliano e as profecias cumpridas, o autor surpreende com um desfecho perturbador. As estirpes condenadas a cem anos de solidão não terão uma segunda oportunidade sobre a terra.

Fica a dica e a resenha.
Abraço.   

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