6 de março de 2013

Memórias Póstumas de Brás Cubas

 

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Ah, formalidades!

Memórias Póstumas de Brás Cubas é o primeiro livro da chamada “trilogia realista” de Machado de Assis. Os outros dois livros são Quincas Borba e Dom Casmurro. Como é do conhecimento geral, o autor rompeu seus laços com o Romantismo e marcou o início do Realismo no Brasil.

Escrito em primeira pessoa e contado do ponto de vista do autor-morto Brás Cubas, o livro retrata a vida de um homem de posses inserido em uma sociedade dominada pelas aparências e pelo dinheiro. Brás Cubas teve uma educação mais “liberal” como era tendencioso naqueles anos, talvez propiciada pelos recursos financeiros da família. A falta de repreensão do pai, o dinheiro e os acontecimentos contribuíram para a formação de sua personalidade. Um homem de escrúpulos distorcidos; de atitudes infames e o mais interessante: de prestígio. Ah, formalidades!

Conheceu mulheres, passou da idade de casar-se. Relacionou-se com Virgínia, a esposa do político Lobo Neves e que curiosamente foi escolhida pelo pai, tempo antes, para servir-lhe de esposa. O ajuste não vingou, mas o sentimento, seja ele qual for e por parte de quem for, permaneceu. Brás passou a ser o amante de Virgínia. Movido por sentimentos que afligem a alma de pessoas do nosso tempo, buscou o poder, o reconhecimento e o prestígio supremo dentro da sociedade que vivia. O dinheiro não lhe bastava, queria ser político como o rival e marido da amada.

Reencontrou Quincas Borba, o amigo de colégio que vive nas ruas e toma-lhe emprestado um relógio. Mais tarde compensa o ocorrido presenteando-lhe com um novo acessório para ver horas e noticiando que havia se tornado rico; recebera uma herança inesperada. Encontram-se e tornam-se novamente amigos. Cubas aprende com Borba a filosofia satírica “Humanitas”, ou a Lei do mais forte, a única e verdadeira lei do mundo. Tudo é humanitas, meu cara Brás Cubas!

Eis aí um pouco sobre o enredo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” do nosso fundador da Academia de Letras Brasileira. Um romance de cunho irônico que nos apresenta valores distorcidos em uma sociedade fútil. Isso não nos parece familiar? Machado já vislumbrava no século XIX os sintomas que afligiriam a sociedade. Sua crítica ao status social, ao dinheiro e à infame lei dos mais fortes, tida aqui como lei dos mais espertos, mais oportunistas, é ferrenha, atual e pertinente.

Ele não se limita á expor tais questões. Com a escrita livre, não linear e marcada por várias conversas entre o defunto-narrador e quem o lê, o autor “ataca” também o leitor desavisado. Há capítulos que instigam à curiosidade e fomentam a própria dignidade do leitor. Mentiras sim, inverdades que o próprio Cubas narra para instigar quem está atento e curioso. Há um capítulo em especial, o “De como não me tornei ministro d’Estado”, cujo texto é formado apenas de reticências. Recurso ousado, inusitado e que trabalha com a curiosidade de quem está lendo. E a coisa continua com capítulos seguintes: “Que explica o anterior”. Dizendo não querer dizer e dizendo, Brás Cubas nos revela como funciona a conspiração política da sua época. E não é que ainda nos continua estranhamente familiar! Genial, se me é possível dizer.

Fica a resenha e a dica.  

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