19 de abril de 2017

O Silêncio das Montanhas - Khaled Hosseini


Crueldade e benevolência são a mesma coisa


O Silêncio das Montanhas é o título do terceiro romance do escritor Khaled Hosseini (já resenhei outra obra do autor aqui). Nele é narrado o dilema de uma pobre família afegã que se vê obrigada a entregar um filho a um casal bem abastado a fim de evitar que todos morram de fome. 

O livro começa com uma história contada por Saboor, pai de Abdullah e Pari, sobre um demônio que de tempos em tempos visitava a aldeia a fim de sequestrar uma pessoa para servir-lhe de alimento. Certa vez o filho predileto de uma pobre família foi o escolhido e o pai se entristeceu tanto que decidiu ir até a casa do demônio para desafiá-lo. Quando chegou ao local pretendido, percebeu que seu filho vivia muito bem ali; tinha uma vida que jamais teria se tivesse vivendo com seus irmãos em casa. O pai inconsolável então percebe a crueldade do demônio. Benevolência e crueldade são íntimas para quem já viveu muito, diz o demônio. Este conto narrado pelo pai dos protagonistas dá uma boa visão do que se trata o enredo do livro todo.  No segundo capítulo a narrativa muda para a terceira pessoa e conhecemos os personagens e os fatos que justificaram a viagem na qual o conto foi narrado, culminando na entrega da menina Pari de apenas três anos para a família Wahdati. 

A partir daí, o autor divide a obra em núcleos que exploram as consequências deste ato. Personagens figuram como principais por um tempo e suas histórias se conectam para criar um enredo maior. Cartas, relatos em primeira pessoa são misturados a narrativa comum no intuito de contar o que houve com os irmãos separados. Muitos anos são visitados e a impressão que fica é a de que tudo está interligado; a realidade daquele povo não muda com as gerações futuras.  

Hosseini é excelente ao contar suas histórias. São carregadas de sentimentos na quantidade certa. Foge ao clichê e prende o leitor imediatamente. O conto que abre o livro é uma ótima introdução. Diferente de em "O Caçador de Pipas", cuja narrativa seguiu mais linear e compacta, aqui, o autor é livre. Esta liberdade exagerada pode confundir o leitor, já que a mudança de núcleo é brusca e descontextualizada (num primeiro momento). Histórias muito diferentes que possuem apenas a mesma pátria como ligação. 

Por sua vez, quando a narrativa se fixa nos personagens centrais inciais, o arremate é emocionante. Em suma, um livro longo, de várias histórias paralelas que se juntam para formar algo maior, emocionante, impactante. 

Ótima leitura. Fica a resenha e a dica.
Abraço.    

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