5 de março de 2018

O primeiro capítulo de "A Lei do Trinta"


Tomo I
Procurada, o tempo todo

O bar é um lugar há muito sem limpeza que cheira à cerveja velha. O barman, já se acostumou com o odor, mas não com aquele tipo de situação. Trêmulo, limpa a poça de líquido dourado do balcão, enquanto os poucos clientes não ousam dizer uma palavra. Há uma visitante entre eles. As marcas nos braços e pescoço denunciam-na. Sinônimo de problema e ninguém quer isso. Ela degusta sua cerveja calmamente. 
Diz:
— Eu sinto muito, mas não há outro modo de resolver isso.
O homem assente bruscamente. Faz um sinal para que os fregueses deixem o local. Todos saem rapidamente, deixando as bebidas pela metade. A mulher esquadrinha o ambiente, enquanto termina de beber. Volta-se ao dono do bar.
— Eles me caçam e eu me defendo.
O portal duplo do estabelecimento se abre, as marcas no corpo da garota mudam de verde para vermelho e um estranho som agudo ecoa pelo salão.
Ela sobe no balcão com agilidade e desliza por ele até o local seguro. Vários disparos são efetuados e inúmeras garrafas, quebradas.
— Saia daí, bandida! — é uma voz grossa.
A mulher observa o homem que lhe servira bebida há pouco. Ele parece estar tendo um ataque do coração. Pede-lhe novas desculpas silenciosamente. Saca os dois revólveres do coldre e faz o sinal da cruz com a arma da direita.
Sobe no balcão num movimento rápido de pernas e lança os braços para frente. Com velocidade puxa os gatilhos, matando todos os seis homens.
— Se continuar assim vou ficar sem munição.
Ela ofega, o barulho do seu corpo diminui. Quando cessa, os riscos das costas e braços voltam a coloração verde neon. As armas são devolvidas ao coldre. As marcas do avermelhamento não reagem, mas ela tem a impressão de que o perigo ainda não acabou.
Caminha até a saída. Coloca o chapéu negro na cabeça, mas deixa o casaco onde está. Assim que suas botas atingem a areia da rua, um tiro de fuzil transpassa o seu ombro esquerdo e a arremessa de volta à varanda do bar. Ela grita de dor, enquanto o corpo expele o projétil. Sangue.
Mantem-se de joelhos, as marcas do corpo deveriam estar completamente vermelhas, mas apenas metade delas estão ativas.
— Oh merda.
O lado esquerdo, é totalmente vulnerável naquela parte do corpo. Um tiro no peito e seria o fim. Já perdera a conta dos tiros que levara.
Fica ali, apenas com a arma da direita em punho. É preciso descobrir o local do franco atirador. Fecha os olhos e reza para que os minúsculos robôs do seu sangue façam o seu trabalho. É tão difícil saber até que ponto aquela tecnologia instalada em suas entranhas é alheia a si mesma. A linha que separa o avermelhamento da sua imaginação pode ser tentadoramente perigosa.
O reconhecimento do local é feito. Em cima das ruínas do prédio em frente, um homem. Nas ruas mais dez pistoleiros e um deles avermelhado, vinham em sua direção.
— Deixe fluir, Mae — ela diz ao sair do esconderijo com a arma em punho.
Os olhos negros identificam rapidamente o franco-atirador. Ela dispara contra ele enquanto corre para um novo abrigo. Os primeiros pistoleiros que vinham em sua direção atiram, mas Mae se protege atrás do bebedouro dos cavalos. Espera o momento certo para se erguer e disparar. O tiro transpassou três inimigos. Sem se abaixar atira novamente e derruba mais quatro. Quando tenta se proteger, já calculando a vulnerabilidade, recebe um novo disparo no ombro esquerdo.
Sabe que a bala agora permaneceria ali. Mais ainda: o pistoleiro avermelhado fora quem a alvejara.
— Ele sabe que não estou cem por cento.
Um inimigo se aproxima do bebedouro, Mae usa o seu punhal para matá-lo. Quando o outro aproxima-se para defender o amigo, ela atira a faca.
— Bravo! — o pistoleiro remanescente bate palmas. — Você vale o desafio.
Mae continua silente. Tem frio. A hemorragia do ombro começa a preocupar.
— Saia, Mae Dickson. Se o seu avermelhamento estiver funcionando com probabilidade, você sabe que já está morta.
Mae não havia experimentado, mas não precisava de recursos especiais para saber que estava enrascada.
— Sabe que posso mandar uma bala precisa para a sua posição. Desista e deixe-me vê-la morrer.
“Todas as balas quando se está avermelhado são precisas, otário!” É o que Mae pensa após ouvir o oponente. Tem que agir rápido.
— Ok! — ela se levanta com as mãos para o alto.
— Ah, Mae! Como sonhei com este momento — ele aponta o revólver na direção da inimiga — alguma última palavra?
— Vá para o inferno! — ela saca rapidamente a arma do coldre direito e dispara certeira contra a cabeça do inimigo.
— Aprenda, não há tecnologia que supere o descuido.
— Eu ia dizer o mesmo para você.
Mae se vira rapidamente na direção de quem lhe fala. Quando reconhece a pessoa, abaixa a arma.
— Não enche, Damian.
Desmaia.

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